quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O VÔO DE NIETZSCHE


"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida. Ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o."


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FRIEDRICH NIETZSCHE (1844/1900). O maior de todos. Para mim, pelo menos. Um estrangeiro na terra, incompreendido (quase incompreensível). Pensamentos espalhados como paredes de um labirinto perfeitamente equilibrado na construção das suas idéias vanguadistas. Egomaníaco justificado, sabia que havia nascido séculos antes do tempo, e escrevia para as gerações por vir. Considerava-se o próprio Zaratustra, que saia da caverna para constatar que ninguém entendia as palavras que pendiam da sua boca. Um homem que gritava com sua voz quase inaudível. E, por pouco, não resolveu calar-se, voltar para a caverna e desistir da humanidade. Enfermeiro voluntário, choca-se com a brutalidade humana na guerra franco-prussiana. Estava tudo errado, fora de lugar. Ele possuia um projeto - não um planejamento - mas um projeto: o homem, o Estado, a civilização. Ocupou-se em rasgar as doutrinas e arrancar as máscaras. Apontou o dedo para a decadência. Erroneamente associado ao fenômeno hitlerista, foi acusado de ser a base filosófica da ideologia nazista (em parte por culpa da sua irmã). Nietzsche não podia ser o "filósofo do nazismo" por que ele não pertencia a ninguém, à nada, mas à sua própria verdade. A quem ele era. Defendia o fim de toda a escravidão moral, social. Está além do bem e do mal, não importa quais preconceitos sejam atribuídos ao seu legado. Como um dogma, pregava a si mesmo a impossibilidade da sua felicidade, mas não a transparência da sua existência ao declarar, "não pretendo ser feliz, mas verdadeiro". E o foi. Talvez mais do que todos os outros, sem nenhum pudor em ofender, em balançar as estruturas da sociedade. Um entre tantos homens espetaculares, que surgem na terra como se deslocados de uma outra dimensão e, no curto episódio das suas vidas, deixam um legado que atravessa o tempo. Ao ironizar que não "permitimos ao nosso Deus pecar", foi categórico, enigmático e execrado ao afirmar que o próprio "Deus está morto". Sua obra jamais. Resumia-se, com lirismo, ao dizer: "Quanto mais me elevo, menor eu pareço aos olhos de quem não sabe voar". Ele sabia voar.

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