quinta-feira, 27 de março de 2008

AS CINZAS DE CALLAS


Maria Callas não foi apenas uma estrela na história da música. Ela foi um evento, uma aparição. E neste sentido emocionante, breve, efêmera. Uma frágil luz sobre o canto lírico, uma ópera em vida, de amor, paixão e tragédia. Nasceu em Nova York, no dia 2 de dezembro de 1923 e surgiu aos olhos do mundo em 1947, na interpretação de La Gioconda, na Arena de Verona. E se consagrou como diva, exigente e temperamental na obtenção dos seus caprichos. Ganhou notoriedade pelo talento e a polêmica em torno de sua imagem. A voz, de um veludo trêmulo, é inconfundível e comove, fazendo os olhos corroerem em lágrimas. É inevitável não sucumbir ao poder da voz de Maria Callas, que parece tocar a alma numa canção de ninar, como se estivéssemos sonhando acordados. Ao final da década de 50 a voz começa a definhar e a diva gradualmente deixa os palcos, fazendo demandas impossíveis de serem atendidas como uma forma de dizer "não" aos inúmeros convites. Passa a se dedicar a outros projetos profissionais, como escolas e coros, que não a satisfazem. Casa-se com Aristóteles Onassis, o milionário, com quem diz ter "enfim começado a vida". E o fim do casamento (ele se casa com Jackie Kennedy) e sua morte são golpes decisivos para o caminho sem volta à reclusão. As apresentações passam a ser cada vez mais escassas até a famosa interpretação de Norma, em Paris (1965). Com a saúde e a voz debilitadas, ela não consege se manter pé até o final, desmaiando ao cair das cortinas no final do terceiro ato. A definitiva apresentação final foi no Japão, em 1974. Entregou-se por fim à solidão, vindo a falecer em 16 de setembro de 1977, no seu apartamento da avenida Georges Mandel, em Paris, vítima de um ataque cardíaco. Um coração partido, sem metáforas. E como era a sua vontade, teve as cinzas derramadas sobre o Mar Egeu.

Nenhum comentário: