domingo, 20 de abril de 2008

DOCE MANIFESTO DA TOLERÂNCIA


Descobri um universo, profundo, sensível e delicado, por detrás da cortina colorida que cobre o - aparentemente inofensivo - filme "A pequena Miss Sunshine" (Little Miss Sunshine), cultuado filme indie que, recentemente, deu seu lugar ao sol ao também maravilhoso "Juno". Enfim. Há nesta pequena grande história um filme para cada um de nós. Para aqueles que buscam duas horas de entretenimento fácil e acesível, de um punhado de risadas óbvias e momentos especiais, o filme os tem em sobra. Para aqueles que desejarem colocar a história sob um microscópio irão se surpreender com a quantidade de temas ali discutidos com graça, leveza e absoluta sutileza. Trata-se de uma jornada em busca de ilusões, onde uma pequena brigada de Don Quixotes numa kombi branca e amarela partem, na caçada aos moinhos de vento. Um pai mal sucedido persegue o sucesso de um programa de motivação, um adolescente problemático e sua determinação nietzschiana em entrar na academia da aeronáutica (para isso se valendo de um voto de silêncio), um avô que se agarra aos últimos sopros de vida, uma mulher tentando achar "normalidade" (e o que é isso mesmo?!) para sua família em frangalhos, um tio homossexual com coração partido na sua tentativa sem sucesso de ser o tradutor da alma de Proust para o ocidente e, por fim, a pequena garotinha que deseja ser miss, mesmo estando fora dos "padrões" (novamente, o que é isso mesmo?). Por trás da deliciosa jornada familiar, na kombi caindo aos pedaços, há uma discussão da pura e sofrida humanidade: gordura, magreza, sucesso, riqueza, fracasso, velhice, adolescência, homossexualidade, beleza. E o que o filme nos mostra é um caminho de contorno a essa via que parecemos trafegar por obrigatoriedade. PARA O INFERNO COM AS CONVENCIONALIDADES! É o que nos diz o PODEROSO "Pequena Miss Sunshine". Por que não precisamos ser, ter, fazer, parecer NADA. Precisamos ser e viver como assim desejarmos, sem dever nada a ninguém, nenhuma satisfação que não seja a nossa própria felicidade. "Pequena Miss Sunshine" é simplesmente um doce manifesto em nome da tolerância e mais do que bem vindo num mundo (e numa indústria) de culto à superficialidade, à beleza fabricada, à ausência dos valores. É um filme sobre o amor da família, a cumplicidade inquestionável que nos torna quem somos. O amor de pessoas que estarão ao nosso lado até o fim, nem que isso signifique nos ajudar a perseguir nossos sonhos mais tolos. E que importa se nossos sonhos são tolos? Eles são NOSSOS e ninguém tem o direito de tirá-los de nós. Eis o que nos apresenta este filme tão especial: uma opção. Uma nova possibilidade, uma esperança que a felicidade é possível. E que está ao nosso alcance. E que tudo, tudo, estará bem.

UM PEQUENO GRANDE LIVRO

Comecei a ler, recentemente, um destes "pequenos grandes livros" que, vez ou outra, parece "cair das nuvens" (trocadilho absolutamente intencional). Trata-se do "Guia do Observador das Nuvens", de Gavin Pretor-Pinney. O autor, defensor do ócio criativo e fundador da Sociedade de Observadores de Nuvens (The Cloud Appreciation Society), apresenta-nos um guia sobre as nuvens (e sua surpreendente quantidade de classificações), num texto deliciosamente escrito, recheado de referências históricas, culturais e religiosas sobre estas que há séculos encantam os céus e povoam o nosso imaginário: as nuvens. É basicamente isso, um livro sobre diminuirmos um pouco o ritimo frenético da vida e olhar para o céu, brincando de imaginar, como tão bem fazíamos quando crianças. É um livro para entendermos a magia da vida, da natureza, sem nenhuma destas chatices de livro de auto-ajuda (aliás este livro passa a quilômetros de distância de ser mais um destes). É um encanto descobrir (e aprender) não apenas sobre o sistema que leva as nuvens ao céu, mas a maneira como elas se relacionam, evoluem, produzem chuva e tempestades, e depois se vão. É um pequenino livro, despretensioso ao extremo, poético e que transborda personalidade. Com a leitura do "Guia do Observador das Nuvens", olhar para o alto nunca mais será um ato banal. Será uma contemplação curiosa, sobre a festa misteriosa que se dá, todos os dias, sobre nós. Com o tempo, acho que vale dizer também: "não saia de casa sem ele". Afinal, como saberemos interpretar o idioma das nuvens nas suas conversas diárias e silenciosas (às vezes nem tanto) sobre nossas cabeças? Pois. Este é um DICIONÁRIO para a linguagem misteriosa das nuvens. E portanto, um livro especial que merece ser. . . apreciado.

LINDA, MÁGICA, TRISTE BAHIA


A Bahia continua linda, misteriosa, quando olhada do alto, por cima das nuvens, com suas águas de azul multicolorido, derramadas sobre a Bahia de Todos os Santos. O porto cheio de história, magia, misticismo, aromas, sabores, odores. Cheiro de mar, de peixe, de madeira de barco, de ruas e paredes velhas, de uma cidade de São Salvador tão antiga quanto o próprio país: negra, portuguesa, quase medieval, com suas ruelas escondidas, catacumbas escuras e tesouros enterrados. Eis a Bahia linda, encantada, sedutora, como uma sereia que quer se deixar seduzir enquanto nos afoga sem piedade. Eis a Bahia da saudade, do calor humano, um Estado de Espírito que, amando ou odiando, é impossível ficar indiferente. A Bahia das baianas, com suas saias rodadas e contas coloridas, do candomblé, das igrejas, da comida exótica, dos capoeiristas e da paixão, da música de Dorival Caymi e as palavras de Jorge Amado. Não dá para dizer que a Bahia é um Estado como qualquer outro por que alguma coisa ali, não sei o quê ao certo, grita que a Bahia é única, com seus defeitos e seus encantos, ela é única. Por que a Bahia é linda e nos chama de volta, mesmo seus filhos mais ingratos. Mas também é triste, com a decadência de suas ruas e a malícia que impreguina sua geografia costeira. É uma pena. Linda Bahia, mágica Bahia. Merecia tanto mais.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

ALGO QUE PASSA, ALGO QUE FICA


na vida, na convivência, no relacionamento com lugares, coisas e pessoas, um clichê inevitável. Concordando com Saint-Exupéry, reflito que cada pessoa que passa por nossas vidas e vai embora leva um pouco de nós enquanto deixa algo de si. Afinal, uma verdade também inevitável. As mudanças, transformações, revelações e revoluções na minha vida são uma prova disso. As surpresas satisfatórias que tive num caminho de incertezas e descobertas. Repetições incessantes para eu (tentar) aceitar que não estamos parados, que caminhamos para frente. Viver, aprender, crescer. E nessa aventura diária a vida muda, como o tempo, como a água. E continua mudando. Avançar é nos despedir, enquanto damos boas vindas (meio amedrontadas) ao novo. Por que são inúmeros os caminhos, passos e cruzamentos para que deixemos algo para trás e na coleção de novos quilômetros possamos nos descobrir em novos momentos, com novas pessoas, em novos lugares. É a caminhada sem fim. Marco Aurélio, um dos mais justos imperadores de Roma, costumava dizer:

"Mantenha-se simples, bom, puro, sério, livre de afetação, amigo da justiça, temente aos deuses, gentil, apaixonado e vigoroso em todas as suas atitudes. Lute para viver como a filosofia gostaria que vivesse. Reverencie os deuses e ajude os homens. A vida é curta".
Isso de alguma forma resume tudo o que eu sempre busquei na minha vida e que continua a iluminar por ande ando, levando muito de cada um que encontro e deixando parte de mim, também, ao longo do caminho. Mudança é evolução, despedida e saudade. Mas assim são as coisas, no doce e imbatível fatalismo que nos obriga a andar para frente, no vento da maré, da novidade, que nos leva adiante, sem parar. E a estrada é longa, as paradas são muitas. Mas valerá a pena, sempre.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

"O MUNDO DE SOFIA"

Sofia Coppola, a musa multitalentosa da comunidade "perdida na tradução" (eu, incluso, certamente), estrela nova campanha de roupas e perfumes da grife Marc Jacobs. O ensaio é, naturalmente, discreto, silencioso, ao melhor estilo "lost in translation". Segundo o próprio Marc Jacobs, "Sofia é perfeita para a campanha, apesar de não ser a garota típica dos anúncios de moda". Ao mesmo tempo, ela representa tudo que se pode achar no "espírito Marc Jacobs" (nas suas próprias palavras): o amor pelo rock, o bom gosto, a alma artista, e a determinação em ditar ela mesma o que quer fazer. Jacobs não se contém ao elogiar sua musa (e amiga): "ela é jovem, doce e linda". São belas e únicas fotos, que retratam com delicadeza o "Mundo de Sofia", aquele que todos nós nos esforçamos em fazer parte, na tentativa de criar, retratar e defender o nosso próprio. Um agridoce mundo de devaneios urbanos.



"Free to go, I know . . . city girl, you´re beautiful. . ."

quinta-feira, 10 de abril de 2008

BENDER E A SALVAÇÃO (?) DO UNIVERSO


O primeiro longa metragem da animação cult (e cultuada) FUTURAMA, "O Grande Golpe de Bender" (Bender´s Big Score) é um primor. Após ingratos anos de pós-cancelamento prematuro, Matt Groening (o criador de "Os Simpsons") devolve no seu filme tudo o que mais apreciamos(ávamos) no seriado animado futurista e se mantém afiado como nunca: as excentricidades do ano 3000, o professor Farnsworth cada vez mais senil, a equipe tresloucada da Planet Express, os destinos insólitos, as histórias absurdas, enfim, um banquete de maluquices comandado por um dos personagens mais icônicos (e inesquecíveis) dos desenhos nos últimos anos: ninguém menos, naturalmente, que o robô alcóolatra e batedor de carteiras, Bender B. Rodriguez. Neste filme, que conta a história de alienígenas nudistas que querem comprar a terra (e o conseguem através de uso de e-mails com spam - sim, é EXATAMENTE isso), Bender vai cruzar a história da humanidade, navegando através de uma fenda no tempo, e literalmente saqueando todos os tesouros dos séculos. Com muito pouco esforço. O filme é uma seqüência ininterrupta de risos e diálogos maravilhosos no melhor estilo FUTURAMA. TUDO o que os fãs mais adoravam foi trazido de presente no primeiro (de quatro) filmes como recompensa a espera incansável dos fãs. Trata-se de um projeto dos seus idealizadores, que viram o encerramento precoce do seriado politicamente incorreto com grande frustração. Com idéias fervilhantes e muita coisa ainda para contar, criaram uma história dividida em 4 filmes que, posteriormente, será transformada em 16 eposódios de TV. Um encerramento definitivo (?), merecido e à altura deste que é um dos melhores produtos da cultura pop dos últimos tempos. Bom, quem assistiu (ou comprou ansiosamente o primeiro filme - sim, eu sou um destes) descobriu que o final de "O Grande Golpe de Bender" traz uma pergunta misteriosa (e metafísica) que apenas iremos descobrir nos próximos filmes. Será que há um limite para a falcatrua do Bender? Será que, desta vez, ele foi longe demais? Que implicações surgirão de sua manipulação desregrada (obviamente) do espaço-tempo? Algumas respostas para essas perguntas já possuem data marcada: em 25 de junho deste ano estréia (diretamente em DVD) o segundo longa metragem de FUTURAMA: "The Beast with a Billion Backs", que narra a história a partir do final do primeiro filme. Esperar para ver. E, pelo visto, fãs de FUTURAMA já descobriram que esperar vale, e muito, a pena. . .

quarta-feira, 9 de abril de 2008

MUDANÇA E MEDO


Toda a mudança intimida. Fato. Mesmo que ela implique em ganho, melhoria, ela causa medo, apreensão, dúvida, angústia. Por que por mais que sejamos "móveis" a nossa tendência à imobilidade é mais do que natural. É que nos acostumamos com o lugar onde estamos. Por que é do homem criar a raiz, o sistema, a rotina, a tribo. E não como algo cômodo, previsível (isso ninguém gosta), mas por que precisamos da sensação de controle e ordem sobre o caos das nossas vidas. E assim fazemos o malabarismo dos afazeres com a certeza confortável de que o dia de amanhã será uma cópia requentada do dia de hoje, com algumas alterações insignificantes. E assim vamos vivendo, dia após dia, transformando pequenos feitos em conquistas maiores e, com o tempo, descobrimo-nos em constante construção. Olhamos para trás e notamos: "puxa, olha quanto já foi feito". Nunca é fácil enxergar isso no processo. Acredito ser a catarse da conclusão. Mas ninguém nunca nos disse que o trajeto seria fácil. E não é. Por que nele há uma considerável dose de MUDANÇA. Por que para evoluir, crescer, precisamos revolucionar a nós mesmos. E somente mudando é que nos fortalecemos, amadurecemos e assim chegamos a algum lugar. Gosto de pensar nas escadas. A escola, faculdade, trabalho, namoro, noivado, casamento, cidade, país, continente, mesada, salário, nascer, crescer, adolescer, envelhecer, morrer, ser filho, ser pai, mudar de parceiro ou parceira, de apartamento, de trabalho, de carro, mudar, mudar, mudar. É o que mais fazemos. E nunca é algo simples. É um laboratório de sensações, onde apalpamos nossa insegurança, medos infantis, receios e a ingrata vontade de enxergar no escuro. Por que realmente só poderemos saber o que viveremos quando já tivermos vivido. A experiência é um aprendizado do que passou, e uma preparação do que está por vir. Seguir em frente é mudar. E, sim, a mudança também me enche de medo. Mas mudar é preciso.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

MILIONÁRIO ENTEDIADO



O Mini Cooper, praticamente uma celebridade de cinema

Se eu fosse um destes milionários entediados, dedicaria atenção especial ao que eu chamaria carinhosamente de "garagem dos sonhos". E nada de Ferraris, BMWs e afins. Longe disso. Ok, não tão longe, mas definitivamente eu teria uma garagem mais criativa. Escolheria 6 carros para compor minha garagem. A minha primeira compra seria o eterno sonho de consumo mundial, o Mini Cooper (foto acima). Escolheria, em seguida, para riso de alguns vizinhos e inveja desesperada de outros, todos milionários infelizes e entediados como eu, com suas fortunas inacabáveis e desejos cada vez mais escassos:

Fiat 500, o "Cinquecento" (até a cor está ótima!)


O Smart for Two, pequeno notável (sem contar ecológico!)

O New Beetle, edição limitada (conversível), preto com bancos de couro vermelhos

Um tradicional JEEP americano da II Guerra Mundial (don´t ask)


Por último (mas NÃO menos importante), o emblemático Batmóvel dos anos 60. Apesar de não ser um fã de sedans, ora, eu sou milionário e entediado. Não há limites para financiar a minha excentricidade.
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Bom, devaneios à parte, enquanto a garagem e os milhões não vêm, preciso encerrar o post e correr, senão perco o ônibus.