sábado, 31 de maio de 2008

A DOR DE EXISTIR


Nunca paro de pensar a respeito da dor de existir. Até disfarço, finjo não me importar tanto, ensaio comportamentos banais do tipo, "viver o dia de hoje como se fosse o último e está tudo bem". O fato é que é um pensamento diário, quase-contínuo, reflexão de rotina, ora deixada de lado em função de alegrias momentâneas ou preocupações esporádicas. Na verdade, acho que "vestimos" a melancolia, às vezes como luva, chapéu, cachecol. Às vezes como traje completo. É coisa do dia, como tempo nublado, dia ensolarado, chuva passageira. Mudamos com o tempo e a melancolia nos veste de acordo. Nem todos pensam sobre isso com o mesmo grau de atenção e por isso a felicidade é tão relativa e superficial. É tudo uma questão de “se importar”; ou melhor, o “quanto” se importar. Aqueles que mergulham no entendimento e percepção das coisas certamente seguem o trajeto mais difícil, enquanto aqueles que sobrevoam essa “dor de existir” vivem como se não houvesse o silêncio, a solidão, a angústia, a falta de compreensão, a sensação de não pertencer, a indignação diante da inércia que às vezes somos acometidos, o terror de ver o tempo passar, como contagem regressiva, na certeza inquestionável que muito será deixado para trás e que haverá lágrimas e despedidas inevitáveis. É uma dor de indignação, que sentimos quando ninguém nos compreende, que não podemos ser deixados em paz, "existindo". É uma dor que faz a gente sonhar com ilhas e planetas distantes, onde há um refúgio de tudo, de todo o medo e insegurança, onde não precisamos nos encaixar, nos adaptar. Mas não encaro essa dor como algo de todo ruim. Longe disso, na verdade. Acho que é uma maldição e uma bênção, cunhadas como uma moeda que tem dois lados. E que carregamos no bolso, todos os dias. E que brincamos, como se tentando a sorte: cara ou coroa. Por que desta maneira enxergamos o mundo com lentes mais apuradas e a alma, eternamente cicatrizada/cicatrizando, vai aprendendo a sentir o que ninguém sente, ler o que ninguém ler e, assim, viver o que ninguém vive. É o que nos ensina a dor de existir: o benefício de contemplar o universo onde há o nada. E aproveitar o caos e não temer o escuro. É que passamos muito pouco tempo neste mundo sem nenhuma certeza se há um “lado de lá”, se vamos para algum outro lugar depois que tudo estiver acabado. Então corremos. Corremos para aproveitar ao máximo a jornada. E talvez por isso soframos tanto. Mas, afinal, quem não sofre?

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