sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O PEQUENO ENCANADOR

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Para quem sempre se perguntou "como seria um jogo sobre o Pequeno Príncipe?", já há uma forma de saber: Super Mario Galaxy, para o Nintendo Wii. O jogo, que conta mais uma aventura do famoso encanador em busca de salvar a Princesa Peach das mãos do Bowser, apresenta uma série de planetas a serem desbravados, com inúmeros perigos no caminho. Abusando na jogabilidade, carisma, diversão e inovação, Super Mario Galaxy oferece uma experiência única ao nos permitir caminhar pelos micro-planetas em todas as direções, reinventando a física, exatamente como o pequenino príncipe de Saint Exupéry o fazia. Um tesouro; um daqueles jogos que nos faz lamentar cada minuto passado. Deveria ser infinito, misterioso e impossível de navegar por completo. E não acabar nunca. Como o espaço.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

"DAQUI HÁ QUATRO ANOS"


Eis uma das minhas brincadeiras pessoais mais recorrentes. "Daqui há quatro anos, como estará a minha vida?". Tive essa reflexão, concretamente pela primeira vez, ao final da Copa do Mundo de 1994, que aconteceu nos Estados Unidos. O pensamento não tinha nenhuma relação com o esporte, mas com a idéia, puramente, que me ocorreu de imaginar como estaria a minha vida quatro anos depois ou seja, na Copa do Mundo seguinte. Mas chega de futebol. Em nada meus pensamentos se aproximam do futebol. Em verdade, acho que reflito sobre a passagem do tempo desde que existo (penso logo existo; existo logo sofro?). E por isso sinto tanta saudade - de tudo - e sou tão nostáligico sobre tantas coisas. Porque me desespera a idéia de ver os anos escorrendo por entre os dedos enquanto constato que os momentos, tão maravilhosos no presente (que inocentemente julgamos eternos), estão ficando para trás. Lembro de meus anos de capa de super-herói, em que minhas preocupações se resolviam na passagem natural das horas, porque nunca me faltou colo e barra de saia de mãe para me proteger de todas as angústias infantis. Mas mesmo então eu conseguia dizer para mim mesmo: "isso vai passar um dia". O momento presente parece eterno, porque é impossível visualizar a vida, anos adiante. Mas quando menos percebemos, o tempo passou e nos damos conta, às vezes com um susto, o quanto mudou, o quanto se perdeu daquilo que pareceria nunca acabar. Olho para o espelho, todos os dias, e toco o rosto com a sensação de primeira e última vez, porque o dia seguinte já me trará um rosto novo, com células novas, que vão delineando o meu envelhecimento. "O tempo está passando", reflito todos os dias, mesmo de forma inconsciente, porque o pensamento não me deixa; é tatuagem (e cicatriz) de alma. Não há nada que se possa fazer a respeito. E isso é, ora emocionante, ora aterrorizante. E me esforço em esquecer de tudo, das certezas inquestionáveis de que um dia tudo terá acabado. Eis meu maior pesadelo. E quando todas essas idéias se agrupam como uma parede sufocante, que parece desmoronar sobre mim, visto meu espírito com uma empoeirada capa de super-herói e, como nos velhos tempos, finjo que tudo será para sempre.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

80 ANOS

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Hoje é aniversário de Adam West, eterno Batman da juventude dos anos 60 e um de meus heróis mais nostálgicos. De todos os que já vestiram a capa do homem-morcego, eis o meu Batman. Prova inegável de que também os heróis envelhecem. Parabéns a ele.
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O PLANO MAIOR

O espaço do ponto de vista do satélite Hubble da Nasa
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Tenho certeza que Deus olha por nós, todos os dias, por mais difíceis que sejam. É que nada Ele pode fazer pela benfeitoria instantânea sobre um dia ruim. Porque Ele atua no plano maior, para que o resultado final seja bom. Ter fé, na vida, sempre. Tudo dá certo.

JOHN C. REILY MERECE SUA ATENÇÃO


Ele definitivamente saiu da sombra do Will Ferrell. Deixou de lado a vocação de eterno coadjuvante "um pouco engraçado" e assumiu com muita qualidade o papel principal do filme "A vida é dura" (Walk Hard - The Dewey Cox Story). John C. Reilly faz um ótimo trabalho ao interpretar a vida cheia de perdições e abusos de Dewey Cox, um cantor que consegue sair da obscuridade diretamente ao estrelato. No caminho, os anos 60/70, drogas, álcool, sexo e a descoberta do Rock´n´Roll. Não é o filme mais engraçado da minha vida; certamente, Will Ferrell teria feito o papel de forma mais insana e tosca (mas isso já está muito manjado), mas não consegui deixar de rir em 80% do filme, com suas cenas e diálogos insanos e momentos inesperadamente engraçados. "Walk hard" atua, na superfície, como uma paródia as cine-biografias de estrelas da música, mas não deixa de ser um filme de comédia com muito conteúdo e frescor a oferecer. John C. Reilly não abusa das convenções nem das piadas velhas e oferece seu próprio jeito de fazer comédia o que, no fim das contas, nos dá a impressão de estarmos vendo um filme de comédia sem muitos vícios, novo, com o propósito de inovar e fazer rir sem ofender (muito). E nos mostra que a vida, apesar de tão dura, é uma jornada preciosa de realizações e, por que não, muitas gargalhadas.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O QUE ESCONDE O CHEIRO DO RALO?


"O cheiro do ralo" é um filme estranho. É basicamente isso. Mas não é só isso. Trata-se de um filme único, extremamente psicanalítico, com um "cheiro" de filme europeu, cult desde o primeiro segundo, com boa trilha sonora e direção de arte, como não se vê com freqüência no cinema brasileiro. A história é construída num cenário sem tempo nem geografia, onde conhecemos a (falta de) vida de Lourenço, um rabugento dono de loja de penhores, que passa o dia inteiro comprando e vendendo tranqueiras inúteis de pessoas que o procuram desesperadamente em busca de qualquer trocado. E diante desses personagens estranhos ele exerce seu sadismo mais genuíno, enquanto se desculpa por um tal "cheiro do ralo" que emana do banheiro dos fundos. Nos intervalos dessa vida monótona, ele flerta de maneira esquisita com uma garçonete de nome impronunciável. Na verdade, um flerte esquisito com as nádegas da garçonete. Assim, vamos pouco a pouco dissecando a alma perturbada ali retratada (e brilhantemente interpretada por Selton Mello), que descobrimos se tratar da ponta de um iceberg que muito tem a revelar: fixações, obsessões, a busca por um pai ausente, o desprezo pela matéria humana. "O cheiro do ralo" é um filme estranho, não há a menor dúvida. Um filme denso, profundo, não muito acessível. Não é entretenimento gratuito. Mas há algo interessante ali, que nos prende desde as primeiras cenas. Ao final, senti vontade de voltar ao primeiro minuto e ver tudo novamente, na expectativa de descobrir algo novo, na costura misteriosa das cenas que parecem esconder o verdadeiro filme por trás do cheiro que emana do ralo.

sábado, 13 de setembro de 2008

MULHER E MITO


"Elizabeth - The Golden Age" é um filme primoroso, tão exuberante quanto o primeiro. Pessoalmente, ainda prefiro o "Elizabeth" original, mas acho que isso é absolutamente normal e até previsível. É a maldição das continuações, acho. O primeiro, o pioneiro, sempre é referência e marco. Mas esse segundo filme sobre a rainha guerreira da Inglaterra não merece ser ignorado. Na verdade, "A era de ouro" nem parece uma continuação. Trata-se do retrato de mais um momento da história, independente do que foi contado antes. Como produto de arte, apenas, é valioso, marcado por belíssimas cenas, diálogos poderosos, seqüências de tirar o fôlego e todo o caráter épico que se espera de um filme assim. A cena em que Elizabeth surge ao todo do monte, como uma divindade, trajando armadura brilhante sobre um corcel branco é de arrepiar os cabelos - pelo menos para qualquer history-geek (confesso!). No fim das contas, é ótimo filme, que cumpre muito bem o seu papel de contar uma história (por mais que existam aqui e ali alguns equívocos históricos - mas, por favor, isso é um filme! Não dá para contar décadas em duas horas sem alguns ajustes, c´mon). Para mim, foi uma experiência imersiva. É isso que esse filme faz: sem grande esforço te transporta para aquele tempo tão turbulento, onde o fervor religioso e expansionista do império espanhol ameaçava a geopolítica da época. Cate Blanchet, naturalmente, é a jóia da coroa do filme que, basicamente, é uma desculpa para ela mostrar (novamente) o quão maravilhosa consegue ser. Em alguns momentos, sem exageiro, eu deixava de pensar na atriz e enxergava apenas a rainha-virgem, de cabelos vermelhos e punho de ferro, na sua determinada missão de transformar a Inglaterra no império marítimo que ouvimos falar nos livros. Um ótimo filme para se assistir sob cortinas fechadas, chuva na janela e algumas fatias despretensiosas de pizza.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

FANTASIA


para não me permitir afastar da doce inocência, do desejo infantil, da capacidade de rir das bobagens e de acreditar, sempre, que a vida é boa e que não há medos desacolhedores; para crer que não há tempo ruim, suficientemente assustador para inibir a magia.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

"SO SCARED OF GETTING OLDER...


...I´m only good at being young", diz a música. E acho que diz tudo. É uma mistura de sentimentos e reflexões. É o frio na barriga. É o meu olhar diante do espelho, equilibrando indecisamente um talão de cheques em uma mão e uma miniatura do batmóvel em outra. Porque a vida assusta. E encontrá-la repentinamente numa esquina é como ser surpreendido pela chuva. Então me dou conta de que muito passou, e que muito ficou para trás e que por mais que eu me esforce em defender (para mim mesmo) que "sou bom apenas em ser jovem", o tempo põe amigavelmente o braço sobre minhas costas e aponta um caminho, de constatação; de que não dá para "descer do trem" mas que, nem por isso, significa que a viagem será ruim. Porque não há o que temer. Muito fica para trás, inevitavelmente, na paisagem que corre pela janela. Mas muito chega, em quase igual proporção. É preciso encarar esse tempo, sem medo algum que ele encare de volta. É a estrada obrigatória para eu me tornar quem sou.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

SOBRE UMA ALMA TRISTE


Marion Cotillard mereceu cada centímetro do Oscar que conquistou por sua primorosa atuação em "Piaf - Um hino ao amor". Lamentei profundamente não ser mais conhecedor de sua vida, de sua música, sua paixão e sua tragédia. Mas senti de forma verdadeira a sua importância e contribuição. Piaf, definitivamente, foi uma expressão pura da cultura francesa. E com sua alma triste desenhou breve (porém eterna) participação na história.