sexta-feira, 31 de outubro de 2008

HERÓI DE MUITAS CAPAS

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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

LONGE, LONGE DAQUI


Quero assistir, novamente, ao filme "Come early morning" (me recuso chamá-lo por seu nome brasileiro, "Encontros ao Acaso"). Essa birra se deve à incoerência - recorrente - do "abrasileiramento" sem critério que muitas vezes recai sobre bons filmes, cometendo injustiças imperdoáveis. Esse filme, em que Ashley Judd brilha, é mais uma vítima. A história fala do desejo humano, genuíno, de se encontrar, de uma mulher desorientada que vive cada dia como a repetição do anterior, pulando entre relacionamentos de uma noite, na sua impossibilidade de se entregar, de se envolver. É um filme melancólico, silencioso, de cenários decadentes que ilustram vidas medíocres no sul dos Estados Unidos, perdido no tempo. Nada há de especial, além de boa fotografia e a atuação sempre impactante de Ashley Judd (como é de se esperar). É um desses filmes reflexivos, sobre a investigação do "que diabos estamos fazendo aqui, nessa vida?"; a briga que travamos com nossa história, nossa identidiade, o que herdamos de nossos pais. E, sob essa lente, é um filme que merece ser visto. Mas aqui há o grande problema: expectativa. Ao escolher esse filme, em nossas prateleiras verde-amarelas, encontramos a promessa de uma comédia romântica ensolarada, como tantas por aí, em que a mocinha, por pior que seja sua jornada, encontrará um final feliz. E, esperando que isso aconteça, deixamos de apreciar o filme. Porque não haverá final feliz. Pagamos por esse desespero da indústria cultural do nosso país que força, a qualquer custo, para oferecer o consumo do óbvio. E assim se permite pecar, de forma tão tosca, como no caso deste filme. "Come early morning" é um filme valioso (eu percebo semelhanças interessantes com "Flores Partidas"). E merece ser visto. Só não aqui.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

"DÁ-ME PENSAMENTOS NOVOS"


Converso comigo todos os dias sobre isso. Acho que ando sentindo falta de novos pensamentos. O cansaço do dia, o trabalho que consome, a rotina tão cheia de rituais automáticos; um conjunto de coisas que vão sufocando a criatividade e pouco a pouco tirando aquela poeira misteriosa que nos ajuda formular pensamentos novos. Não sei. Talvez seja um mês mais cansativo, também, acontece. Dias melhores virão, não é? Os pensamentos não são uma indústria, procuro me consolar; não dá para fabricar, plantar para colher. É uma combustão espontânea. Um balão que estoura, a lâmpada que acende, como nos desenhos animados. Mas acredito que eles às vezes ficam mais arredios, mais distantes; meio magoados, sem querer mostrar a cara; e se escondem, em cantinhos mal iluminados da nossa cabeça, como se não existissem. Ou talvez fiquem doentes, de cama, como nós, e decidam não vir trabalhar. Ou também fiquem eles sem inspiração. De repente os pensamentos têm vida própria, são de lua, agem conforme o tempo e a maré. E é preciso respeitá-los. Mas é que sinto falta deles, quando os percebo longe. E fico a procura, à espera que cheguem, ansiosamente. E corro os campos abertos do meu imaginário, como se gritando ao meu cérebro, por entre os vales e colinas, que vão surgindo sob os meus pés: "dá-me pensamentos novos".

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A REINVENÇÃO DO FORDISMO


Às vezes acho que estamos correndo contra a maré das tendências. E reinventando o passado, corrempendo nossos valores, ficando mais arcaicos, escolhendo ser ultrapassados. Honestamente, adoro trabalhar. Acho que é um benefício para o corpo, mente e espírito; como amar, alimentar-se, dormir, aprender. Faz parte da vida. E não apenas por uma questão de obrigatoriedade - "temos contas a pagar" - mas porque a sensação de produtividade, de fazer parte de um processo criativo que transforma o nada em algo é valioso. O cansaço ao final do dia é a prova que colocamos nossa máquina humana para exercitar-se a pleno vapor. Mas essa é a parte bonita da história. É o que todo mundo diz e quer acreditar. Mas a verdade é que esse é o "trabalho como o idealizamos", porque a realidade sempre nos obriga a acreditar o contrário: que o trabalho é a escravidão e a tortura da vida moderna; que reprime, sufoca, esmaga nossas idéias mais originais, nossa liberdade; que nos afasta da família, que suprime nosso lazer e prazer; que nos impede de viajar, de expressar nossa individualidade: porque temos um horário, um prazo e alguém, acima de nós, para responder pela origem de todos os nossos problemas. Trabalho deveria estar em sintonia como aquilo que funciona em nossas vidas: sendo algo que nos trouxesse prazer e não ansiedade. Somos questionados, cobrados e exigidos em transformar a nossa subjetividade em concreto, moldar nosso espírito a padrões que não são nossos e nos adequar a um sistema falido que parece querer reinventar o fordismo, todos os dias. As pessoas erradas estão no poder, é a conclusão que chego todos os dias. Onde estão os detentores das melhores idéias, libertárias, renovadoras? Onde eles estão, que não assumem seus postos de lideranças dos novos tempos? Não. As pessoas erradas estão no poder. No poder de gritar, de demandar o impossível, de questionar o absurdo, de exercer a desumanidade travestida de autoridade. O trabalho, como atividade espartana, tem sido abandonado gradualmente em todo mundo esclarecido. No nosso país, talvez por herança cultural, dependemos de uma estrutura infeliz, onde ainda somos escravos do café e do açúcar. E assim trabalhamos, aquartelando nossa indignação, transformando-a em pólvora, no anoitecer das nossas revoluções pessoais escondidas. Guardamos nossa revolta, sob a capa de cidadãos comprometidos. Mas ela está lá, como capoeira que nos fortalece as pernas. E um dia, mais uma vez, tudo queimará nas cinzas da renovação. E talvez, quem sabe, as pessoas certas atendam ao chamado.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

VOANDO LONGE DA SUA ATMOSFERA

Brincamos, às vezes, de indagar se "seríamos amigos, caso tudo desse errado". E eu sempre te digo que eu simplesmente não conseguiria; seria impossível. E você ri e questiona a minha inflexibilidade. Afinal, perderíamos tanta coisa, não? Mas eu simplesmente não conseguiria, porque envolveria imaginar o dia, a minha vida sem a idéia de voltar para você. Ou pior, saber de você sem poder voltar. Eu veria as ruas e os lugares, por onde passamos algum dia, vazios. E, para mim, você estaria em toda parte. E meu coração sentiria um aperto a cada esquina. E então eu me descobriria refém das fotos de uma história inesquecível que iria me perseguir até o fim. Eu teria que "voar longe da sua atmosfera", para sobreviver, para não me queimar por completo, para não me desfazer em mil pedaços a cada momento em que o acaso te trouxesse de volta ao alcance dos meus olhos. É como a música, que tenho ouvido no carro. É exatamente como a música.

A mim seria destinada uma vida de errâncias sem sentido. E todas as curvas da cidade me diriam "esqueça, deixe passar, a vida é assim...", algo que não seria possível. Porque eu atravessaria os dias e as noites imaginando em que lugar de sua vida eu (ainda) estaria ou se eu teria ficado, para sempre, como uma lembrança de algo bom que passou e ficou para trás. E, como uma maldição, carregaria comigo esse pensamento.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

PARA TODAS AS IDADES (E COLEÇÕES)

É praticamente uma obrigação, para qualquer amante de cinema, assistir "A Bela Adormecida", o 19º longa-metragem de animação produzido pela Disney inspirado na obra de Tchaikovsky. Aliás, é simplesmente uma obrigação, não importa. Acaba de ser lançada uma edição especial, com dois DVDs, que merece constar em qualquer coleção. O desenho é um marco (certamente um dos meus preferidos, juntamente com "Cinderela" e "Branca de Neve e os sete anões"), com belíssimos traços góticos, de tom medieval. Os cenários são detalhadíssimos, demonstrando o cuidado e a riqueza do trabalho artesanal de animação, numa época em que o amor era mais importante que computadores de ponta. A música é inesquecível (utiliza melodias da própria obra de Tchaikovsky). E a história é absolutamente clássica: a princesa amaldiçoada, que adormece numa torre enquanto espera pelo príncipe encantado que, antes de acordá-la com um beijo, precisa derrotar um dragão em um labirinto de espinhos. Malévola, a mais interessante de todas as vilãs Disney, está lá, roubando a cena sempre, com sua voz e olhar inconfundíveis. Ao assistir essa obra de arte viva, dá para entender o porquê de ter demorado 6 anos para se finalizada. E até hoje, "A Bela Adormecida" é um marco na animação, servindo como referência de técnica e poética. Um, entre tantos, presentes eternos de Walt Disney para todas as gerações.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

UM NOVO RAPAZ NO PEDAÇO


Ele é mais charmoso e mais engraçado que eu. Chegou de surpresa, como quem não quer nada, e agora somos dois homens na casa, dividindo o amor e a atenção da mesma mulher. Desleal competição. Mas é inevitável morrer de amores pelo entruso miúdo que veio roubar um cantinho das nossas vidas. Filho felino. Não tem problemas, pequenino Nietzsche. Seremos um trio, agora.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O RETORNO DA LENDA


Meus heróis ainda vivem. O lançamento em DVD do filme "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" é um exemplo. Para os fãs verdadeiros, vale ficar com a edição especial, com DVD duplo (um deles com mais de duas horas de extras). O filme, definitivamente, não é o melhor (ainda fico com "A última cruzada"), mas é muito fiel à trilogia original e tem o mais genuínio DNA da aventura clássica que aprendi a amar, desde muito pequeno. Harrison Ford, com 65 anos(!), dá um show e veste com muita categoria o chapéu, a jaqueta de couro e o chicote que o consagraram há mais de vinte anos. É um presente vê-lo de volta, na investigação de mais um mistério e no combate incansável contra aqueles que põem em risco o futuro da humanidade (nesse caso, os russos e não os nazistas que adorávamos odiar). Confesso que não aprecio muito a questão com os seres alienígenas (ou de "outra dimensão"), fruto inegável da influência de George Lucas. Mas isso é pequeno demais para estragar a festa. Steven Spielberg, George Lucas e Harrison Ford estão perdoados de qualquer pecado. No fim das contas, é um filme novo que já nasce clássico, que emociona e fará qualquer um assobiar a inesquecível música tema de John Williams, na subida dos créditos. Não tem jeito. É viral. "Tan-tan-tan-tan...tan-tan-tan..."

terça-feira, 7 de outubro de 2008

OS 500 DA EMPIRE


Vale a pena conferir o ótimo hotsite da EMPIRE, que acaba de eleger os 500 melhores filmes de todos os tempos. A lista, apesar de apresentar óbvias controvérsias, é extremamente simpática, ao misturar clássicos antigos e modernos, desenhos e animações, com filmes atuais e mesmo de apelo comercial. Não se trata de uma daquelas listas chatas, apenas com filmes que se convencionou eleger como melhores (sim, "Cidadão Kane" eu estou apontando para você!). Não. A lista da EMPIRE é original, ao apontar, entre tantos filmes maravilhosos, "O Poderoso Chefão" e "Superbad", por exemplo, como filmes importantes para a cultura mundial. O site, em si, é riquíssimo, com informações sobre os filmes e belas imagens para ilustrá-los. Vale o click.

À FUNDAÇÃO DE UM NOVO PAÍS


Celebramos hoje a fundação de um novo país, um planeta descoberto, uma ilha mapeada, um reino particular, nosso principado pessoal. São três anos de "independência", deste lugar só nosso, secreto; de idioma, costumes e tradições próprias. Onde somos felizes, onde somos completos, onde somos amantes, heróis, crianças; onde nos refugiamos de todas as chuvas, onde nos permitimos ser inocentes. Celebramos hoje três anos deste mágico país das maravilhsas, dessa Terra do Nunca, que conquistamos com amor, com guerra e paz. Hoje é dia de deixar voar as bandeiras à janela, com orgulho coroado pela nossa luta diária de consolidar e fortalecer essa nossa citadela de doces ilusões, onde nada é impossível, onde os sonhos são vividos e o tempo corre em passo diferente. Um lugar onde não queremos relógios nem regras, porque temos particularidades, idiossincrasias e filosofias que devem ser seguidas como leis constitucionais. Um país de dias ensolarados e noites com chuva, onde se toma café na cama e descobrimos a verdadeira satisfação nas pequenas alegrias da vida. Onde somos eternos.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

´CHANGE WE CAN BELIEVE IN´


Se os donos do império não impedirem, é uma questão de tempo para uma mudança em que realmente podemos acreditar aconteça, não importa onde vivemos; em que país, sob que língua ou cultura. É uma questão de tempo. Porque eu sei que nas cinzas das nossas esperanças falidas ainda há alguma esperança. E, não importa o que digam os reis, caro Obama; você ainda é o Príncipe.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

ONDE MORA A VERDADEIRA FELICIDADE


Acredito que verei um novo filme, quando assistir novamente a "Na natureza selvagem" (Into the wild). É que me ocupei demais em absorver e me deixar impactar pela história do que simplesmente assistí-la. O filme de Sean Penn é impecável do ponto de vista técnico, com fotografia marcante, pela beleza das paisagens naturais e trilha sonora extremamente adequada, ainda que haja excessos aqui (não sei se era preciso tanto Eddie Vedder em um filme só). A temática, por sua vez, é onde o filme corre por uma linear e ao mesmo tempo acidentada montanha-russa de emoções. O filme nos conta a história de Chris Mccandless, um andarilho que se auto batiza "Alexander Supertramp", ao decidir romper com as convenções e hipocrisias da sociedade, abandonar a família e rumar à "natureza selvagem". Segundo o anti-herói, apenas pela experimentação da mais profunda e humana solidão ele encontraria sua realização pessoal, seu genuíno auto-conhecimento. Para a concretização do plano ambicioso, um destino traçado quase como uma epifania: o gelo inóspito do Alasca. Ao longo do caminho, Chris se depara com pessoas encantadoras e inesquecíves - em especial o senhor Ron, que atua de forma comovente (indicação ao oscar de ator coadjuvante para Hal Hoolbrook). O problema é que a sua determinação em romper com quaisquer laços afetivos é tão grande que ele não se permite apreciar esses encontros e desencontros tão especiais, o que realmente faz da sua jornada uma experiência rica e sem par. Em que oportunidade, além dessa, ele poderia ter vivenciado tanta coisa? Ao invés de abraçar os novos acontecimentos, ele deixa tudo para trás, na sua certeza cega de que nada é necessário, além da pureza natural da vida. Após lutar - e sobreviver - contra a força da natureza, Chris se aprisiona dentro de um ônibus abandonado, onde constrói sua torre solitária e se depara com uma verdade tardia, que põe em cheque toda a sua errância solitária. E então, o seu salto de liberdade se converte em queda melancólica, de reflexões oportunas mas absolutamente inúteis. E ao mesmo tempo que somos tocados pela beleza absurda que o filme promove, tanto do ponto de vista visual como lírico, sentimos raiva pela petulância de um rapaz de 23 anos que decidiu ser Deus. E que pagou caro por isso. Definitivamente, Chris Mccandless não é um herói nem um modelo a ser seguido. Por ninguém, para nada. Mas ele é inegavelmente protagonista de uma história que merece ser conhecida e que Sean Penn o fez eloqüentemente e com muito poucos momentos de parcialidade. Esse filme me deixou extremamente reflexivo ao final, forçando-me inúmeros pensamentos - muitos deles desconexos individualmente, mas todos caminhando para um mesmo conjunto de idéias. Definitivamente, não senti necessidade de romper com a companhia das pessoas para constatar que a verdadeira felicidade está, justamente, em compartilhar. Penso que isso está no campo do óbvio. Do contrário, onde haverá, sequer, a existência?