segunda-feira, 27 de outubro de 2008

LONGE, LONGE DAQUI


Quero assistir, novamente, ao filme "Come early morning" (me recuso chamá-lo por seu nome brasileiro, "Encontros ao Acaso"). Essa birra se deve à incoerência - recorrente - do "abrasileiramento" sem critério que muitas vezes recai sobre bons filmes, cometendo injustiças imperdoáveis. Esse filme, em que Ashley Judd brilha, é mais uma vítima. A história fala do desejo humano, genuíno, de se encontrar, de uma mulher desorientada que vive cada dia como a repetição do anterior, pulando entre relacionamentos de uma noite, na sua impossibilidade de se entregar, de se envolver. É um filme melancólico, silencioso, de cenários decadentes que ilustram vidas medíocres no sul dos Estados Unidos, perdido no tempo. Nada há de especial, além de boa fotografia e a atuação sempre impactante de Ashley Judd (como é de se esperar). É um desses filmes reflexivos, sobre a investigação do "que diabos estamos fazendo aqui, nessa vida?"; a briga que travamos com nossa história, nossa identidiade, o que herdamos de nossos pais. E, sob essa lente, é um filme que merece ser visto. Mas aqui há o grande problema: expectativa. Ao escolher esse filme, em nossas prateleiras verde-amarelas, encontramos a promessa de uma comédia romântica ensolarada, como tantas por aí, em que a mocinha, por pior que seja sua jornada, encontrará um final feliz. E, esperando que isso aconteça, deixamos de apreciar o filme. Porque não haverá final feliz. Pagamos por esse desespero da indústria cultural do nosso país que força, a qualquer custo, para oferecer o consumo do óbvio. E assim se permite pecar, de forma tão tosca, como no caso deste filme. "Come early morning" é um filme valioso (eu percebo semelhanças interessantes com "Flores Partidas"). E merece ser visto. Só não aqui.

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