quarta-feira, 1 de outubro de 2008

ONDE MORA A VERDADEIRA FELICIDADE


Acredito que verei um novo filme, quando assistir novamente a "Na natureza selvagem" (Into the wild). É que me ocupei demais em absorver e me deixar impactar pela história do que simplesmente assistí-la. O filme de Sean Penn é impecável do ponto de vista técnico, com fotografia marcante, pela beleza das paisagens naturais e trilha sonora extremamente adequada, ainda que haja excessos aqui (não sei se era preciso tanto Eddie Vedder em um filme só). A temática, por sua vez, é onde o filme corre por uma linear e ao mesmo tempo acidentada montanha-russa de emoções. O filme nos conta a história de Chris Mccandless, um andarilho que se auto batiza "Alexander Supertramp", ao decidir romper com as convenções e hipocrisias da sociedade, abandonar a família e rumar à "natureza selvagem". Segundo o anti-herói, apenas pela experimentação da mais profunda e humana solidão ele encontraria sua realização pessoal, seu genuíno auto-conhecimento. Para a concretização do plano ambicioso, um destino traçado quase como uma epifania: o gelo inóspito do Alasca. Ao longo do caminho, Chris se depara com pessoas encantadoras e inesquecíves - em especial o senhor Ron, que atua de forma comovente (indicação ao oscar de ator coadjuvante para Hal Hoolbrook). O problema é que a sua determinação em romper com quaisquer laços afetivos é tão grande que ele não se permite apreciar esses encontros e desencontros tão especiais, o que realmente faz da sua jornada uma experiência rica e sem par. Em que oportunidade, além dessa, ele poderia ter vivenciado tanta coisa? Ao invés de abraçar os novos acontecimentos, ele deixa tudo para trás, na sua certeza cega de que nada é necessário, além da pureza natural da vida. Após lutar - e sobreviver - contra a força da natureza, Chris se aprisiona dentro de um ônibus abandonado, onde constrói sua torre solitária e se depara com uma verdade tardia, que põe em cheque toda a sua errância solitária. E então, o seu salto de liberdade se converte em queda melancólica, de reflexões oportunas mas absolutamente inúteis. E ao mesmo tempo que somos tocados pela beleza absurda que o filme promove, tanto do ponto de vista visual como lírico, sentimos raiva pela petulância de um rapaz de 23 anos que decidiu ser Deus. E que pagou caro por isso. Definitivamente, Chris Mccandless não é um herói nem um modelo a ser seguido. Por ninguém, para nada. Mas ele é inegavelmente protagonista de uma história que merece ser conhecida e que Sean Penn o fez eloqüentemente e com muito poucos momentos de parcialidade. Esse filme me deixou extremamente reflexivo ao final, forçando-me inúmeros pensamentos - muitos deles desconexos individualmente, mas todos caminhando para um mesmo conjunto de idéias. Definitivamente, não senti necessidade de romper com a companhia das pessoas para constatar que a verdadeira felicidade está, justamente, em compartilhar. Penso que isso está no campo do óbvio. Do contrário, onde haverá, sequer, a existência?

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