quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A REINVENÇÃO DO FORDISMO


Às vezes acho que estamos correndo contra a maré das tendências. E reinventando o passado, corrempendo nossos valores, ficando mais arcaicos, escolhendo ser ultrapassados. Honestamente, adoro trabalhar. Acho que é um benefício para o corpo, mente e espírito; como amar, alimentar-se, dormir, aprender. Faz parte da vida. E não apenas por uma questão de obrigatoriedade - "temos contas a pagar" - mas porque a sensação de produtividade, de fazer parte de um processo criativo que transforma o nada em algo é valioso. O cansaço ao final do dia é a prova que colocamos nossa máquina humana para exercitar-se a pleno vapor. Mas essa é a parte bonita da história. É o que todo mundo diz e quer acreditar. Mas a verdade é que esse é o "trabalho como o idealizamos", porque a realidade sempre nos obriga a acreditar o contrário: que o trabalho é a escravidão e a tortura da vida moderna; que reprime, sufoca, esmaga nossas idéias mais originais, nossa liberdade; que nos afasta da família, que suprime nosso lazer e prazer; que nos impede de viajar, de expressar nossa individualidade: porque temos um horário, um prazo e alguém, acima de nós, para responder pela origem de todos os nossos problemas. Trabalho deveria estar em sintonia como aquilo que funciona em nossas vidas: sendo algo que nos trouxesse prazer e não ansiedade. Somos questionados, cobrados e exigidos em transformar a nossa subjetividade em concreto, moldar nosso espírito a padrões que não são nossos e nos adequar a um sistema falido que parece querer reinventar o fordismo, todos os dias. As pessoas erradas estão no poder, é a conclusão que chego todos os dias. Onde estão os detentores das melhores idéias, libertárias, renovadoras? Onde eles estão, que não assumem seus postos de lideranças dos novos tempos? Não. As pessoas erradas estão no poder. No poder de gritar, de demandar o impossível, de questionar o absurdo, de exercer a desumanidade travestida de autoridade. O trabalho, como atividade espartana, tem sido abandonado gradualmente em todo mundo esclarecido. No nosso país, talvez por herança cultural, dependemos de uma estrutura infeliz, onde ainda somos escravos do café e do açúcar. E assim trabalhamos, aquartelando nossa indignação, transformando-a em pólvora, no anoitecer das nossas revoluções pessoais escondidas. Guardamos nossa revolta, sob a capa de cidadãos comprometidos. Mas ela está lá, como capoeira que nos fortalece as pernas. E um dia, mais uma vez, tudo queimará nas cinzas da renovação. E talvez, quem sabe, as pessoas certas atendam ao chamado.

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