segunda-feira, 13 de julho de 2009

FÁCIL DIGESTÃO

Não é que eu tenha preconceito contra o cinema nacional. Absolutamente! Mas fico com a impressão de que o fato de um filme ser brasileiro e falado em português parece comportar uma carga imensa de "obrigatoriedades cinematográficas", por assim dizer: falar de miséria, de fome, de pobreza, sofrimento do povo nordestino, violência, polícia, corrupção, aquela história. Mas, francamente, será que não dá para mudar um pouco? Um filme, mesmo ambientado no Brasil, e falado em português não precisa seguir essa regra. E "Estômago", uma produção ítalo-brasileira, é um exemplo perfeito de como fazer um filme nacional, genuinamente brasileiro e completamente original. E olha que o filme fala de Brasil, pobreza, violência, cadeia e migração nordestina! A história narra as aventuras de Raimundo Nonato, que chega em São Paulo com a roupa do corpo em busca de oportunidades. Por um acaso do destino, ele acaba fazendo coxinhas de galinha num bar de esquina que, de tão boas, fazem do lugar um sucesso. Uma coisa leva a outra e Raimundo acaba na cozinha de um restaurante italiano. No meio tempo, vamos descobrindo que ele está preso e, na cadeia, conquista status e poder por causa dos seus conhecimentos culinários. Afinal, com mãos de mestre, transforma a bóia da prisão em comida de primeira e cai nas graças dos presos. O filme tem nuances, detalhes e idéias incríveis. É absolutamente original e obrigatório. É sério quando deve ser, é crítico quando deve ser e é trágico e é cômico, tudo na medida certa, tudo em doses ideais, como uma receita de ingredientes variados, mas que rendem uma iguaria incomparável. O final, apesar de esperado, não deixa de ser surpreendente. E, assim, "Estômago", um filme de facílima digestão, é um exemplo perfeito de como o "feijão com arroz" do cinema brasileiro pode variar mais.

Um comentário:

Luana Ribeiro disse...

Estômago é realmente muito bom! E também o são Romance, Desafinados, O ano em que meus pais (..), Quanto vale (...), Chega de saudade, e por aí vai. À deriva também promete; ainda não assisti, mas aposto alto.

Daniel Filho disse que o cinema nacional deixou de ser um gênero. Concordo em absoluto. E chega de feijão com arroz!!