sábado, 12 de setembro de 2009

O TREM


A grande verdade é que descobrimos mais cedo ou mais tarde que estamos viajando num trem no qual fomos simplesmente obrigados a embarcar. E que não pára. Nunca. Ele segue de estação em estação, nos trazendo pessoas, surpresas, lugares, lembranças, risos, lágrimas, flores e fotografias pelo caminho. E nos fazendo deixar muito de tudo isso para trás, também. Viajar nesse trem é dizer olá e adeus, sem parar. Às vezes é uma sensação agradável, a de estar correndo neste trem do qual não podemos descer. Às vezes é desesperador. Simplesmente desesperador.

É o simples medo de envelhecer, de enfrentar a vida sozinho. Quando chega a nossa vez, a nossa deixa, a hora de assumir o bastão desta corrida já vivida por tantos antes de nós. É que não queremos que a viagem acabe. Não queremos dizer adeus a quem amamos. É que não queremos ver os nossos pais irem embora. É agonia de nos enxergarmos mais velhos no espelho, quando sabemos como somos bons em "sermos jovens". 

Talvez seja a grande dificuldade de nos desprendermos, desapegarmos de tantas posses e propriedades mentais e materiais e dizermos adeus a pessoas e a momentos que simplesmente ficam para trás; não por que assim escolhemos, mas por que simplesmente a vida nos obriga que assim seja. Adeus e olá. Olá e adeus. Por que o trem segue seu caminho e nada nos resta a não ser abraçar seus inúmeros vagões e paradas, enquanto contemplamos o que passa por suas janelas velozes. Só não dá para parar o trem. Só não dá para descer. É um fato inquestionável.

Por isso enfrentamos a angustiosa necessidade de conversar com alguém, para encontrar alguma resposta, algum conforto. Buscamos nossos pais, avós e irmãos que já viveram o suficiente desta jornada, para nos explicar um pouco sobre o que ainda vem pela frente. Uma tentativa infantil, quase ingênua, de perguntar uma última vez se é possível descer do trem e voltar para casa, onde é seguro, nosso último bastião, dentro do qual não envelhecemos e a vida deixa de ser assustadora.

“Espere um pouco mais, acumule algumas décadas e renegocie a sua jornada”, tentam nos confortar com algum sucesso, “mas não pare nunca este trem, não troque por nada este pedaço do caminho que você já correu”. No fim das contas não devemos mudar nada do que construímos até onde estivermos e aceitar que o trem não pára mesmo. E ao invés de nos ocuparmos tanto em questioná-lo e tentar a qualquer custo tirá-lo dos trilhos, descobrirmos que pode ser boa a jornada. Por que ela subtrai na quase igual proporção em que soma. Não nos rouba nada, apenas negocia e renegocia. Estamos em troca, todo o tempo. E somos melhores a cada novo dia.

Abraçar a viagem. É difícil, mas é o que deve ser feito, dizem-nos os mais experientes. Abraçar a viagem. Dizer adeus aos nossos pais e olá aos nossos filhos, por que em breve será a vez deles, o momento deles de subirem no trem, seguindo a viagem que é só deles, e se preparando para nos dizer adeus. Por que tudo corre velozmente para o pleno fechamento de um círculo. E também este círculo não pára, por que é contínuo e se refaz em si mesmo, com a perfeita e magistral alternância de papéis. Pais que são filhos. Filhos que se tornam pais. Até todos irem embora e até todos chegarem. É o destino final. É o trem da vida. E, ao final do dia, tudo estará bem.

John Mayer canta "Stop this train" (Live in LA)

2 comentários:

Anônimo disse...

muito bom o seu texto,cara!
inspirado na cançaão de J. Mayer
mas voce foi mais longe...

lilian disse...

ah...que bonito texto.Gosto muito da musica,acho que ninguem é ''good
in being 30'',o segredo é never realize you are in the sky,and you can´t fly...''