domingo, 4 de outubro de 2009

"WOULD YOU ERASE ME?"


E se realmente fosse possível apagar memórias tristes das nossas mentes? Sumir com aquelas lembranças que nos fazem sofrer; as memórias que já não tem utilidade; eliminar qualquer vestígio de alguém que amamos perdidamente como num passe de mágica? Essa é a grande questão deste brilhante filme de Michel Gondry, lindamente protagonizado por Jim Carrey (no seu melhor papel dramático) e Kate Winslet, perfeita como sempre. O título é uma alusão à famosa citação de Alexander Pope: "Feliz é a virgem inocente. Esquecendo o mundo e por ele sendo esquecida. Brilho eterno de uma mente sem lembranças". A história transpira profunda beleza e metafísica ao narrar a vida de um casal infeliz que decide apagar um ao outro da memória por meio de um questionável procedimento médico. Joel e Clementine viveram juntos e chegaram a um ponto em suas vidas que simplesmente "não funcionavam mais". O fim do relacionamento é triste e doloroso e ambos decidem se apagar. Essa metáfora discute o caminho mais fácil, que sempre escolhemos: fugir, esquecer, apagar. O caminho mais difícil, mais longo, é sempre mais doloroso, porque envolve amadurecimento, comprometimento e aceitação. Mas será, mesmo, que seria tão fácil simplesmente apagar alguém das nossas vidas? Rompendo com pensamentos e memórias como se fossem arquivos de computador? Essa reflexão, durante o filme, é ambiguamente melancólica e romântica. Joel e Clementine, apesar de terem se apagado, nunca conseguem se "eliminar" por completo. Algumas memórias são fortes demais, presentes demais, o que faz com que ambos se reencontrem, eventualmente, e saibam, de alguma forma, que há algo ali e que eles precisam ficar juntos novamente. O filme é recheado de passagens comoventes, quando exprime na linguagem do filme, a confusa e misteriosa costura de lembranças, sempre caótica, sempre explosiva, sempre poderosa. Por fim, compreendemos que o amor genuíno é, em si, um conjunto de idéias conflituosas: paixão, raiva, desejo, admiração, pena, desprezo, cuidado, respeito. Algo simplesmente poderoso demais para ser apagado. E as nossas memórias, as piores e as melhores, são sempre um mapa para nos retirar do labirinto da estagnação; o farol que nos aponta o caminho de casa. "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" é um filme dificil, confesso. Mas, para mim, é mais que um filme. É uma experiência que merece ser vivida. Uma lembrança que merece ser registrada.   

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