sexta-feira, 27 de novembro de 2009

GRATIDÃO

"Agradeçamos, porque se hoje não aprendemos muito,
Ao menos aprendemos um pouco. E se não aprendemos um pouco,
Ao menos não adoecemos. E se adoecemos,
Ao menos não morremos. Portanto, agradeçamos".
(Buda)

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

NASRUDIN E A MULTIDÃO

Conta uma lenda Sufi que Nasrudin chegou a uma pequena aldeia e todos imediatamente julgaram-no como um velho sábio. Não demorou muito até que uma multidão se aproximou do velho, aguardando ansiosamente por palavras de sabedoria e iluminação. "Mas quem havia lhes dito que Nasrudin era um sábio?", pensou. Para não frustrar seus expectadores, no entanto, Nasrudin placidamente abriu seus braços e disse aos presentes:

"Suponho que, se estão aqui, já sabem o que tenho a dizer".

Eis que a turba respondeu: "Não! O que você tem a nos dizer? Não sabemos, diga-nos, por favor!".

E Nasrudin continua: "Se vieram até aqui sem saber o que venho a lhes dizer, então não estão prontos para escutar". Dito isto, o velho se levanta e vai embora, deixando todos atônitos. Alguns já julgavam-no louco, quando alguém gritou, maravilhado:

"Ele tem toda a razão! Como podemos nos atrever a vir aqui se sequer sabemos o que viemos escutar? Somos estúpidos e perdemos uma chance maravilhosa. Quanta iluminação, quanta sabedoria! Vamos pedir ao velho que nos dê uma nova chance!"

E alguns homens correram em busca de Nasrudin e suplicaram-no que voltasse e ensinasse, novamente, seus conhecimentos. Após grande insistência, o velho retorna à aldeia e encontra uma multidão ainda maior na praça. E diz, assim que chega:

"Suponho que já sabem o que tenho a lhes dizer".

Lição aprendida, a multidão responde, quase em coro: "Sabemos, claro. Por isso viemos".

Ao ouvir a resposta, Nasrudin balança a cabeça e lhes diz: "Bom, se já sabem o que vim lhes dizer, não vejo necessidade alguma de repetí-lo". E, novamente, abandona as pessoas e vai embora. A platéia se cala em profundo silêncio até que um começa a gritar:

"Maravilhoso! Iluminado! Precisamos ouvi-lo mais, desejamos mais de sua sabedoria!"

Outro grupo de homens corre, novamente, em busca de Nasrudin e, de joelhos, imploram ao velho que volte. Nasrudin consente e é recebido como um rei pela aglomeração de pessoas sedentas por seu conhecimento. O velho se volta para eles e diz:

"Suponho que já sabem o que vim dizer".

E então, um representante responde com confiança: "Alguns sim, mestre, mas outros não". E a praça é tomada por grande silêncio e expectativa. Todos observam Nasrudin até que ele responde, serenamente:

"Neste caso, os que sabem que contem aos que não sabem". E, dito isso, Nasrudin foi embora.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

PARA VER E OUVIR: "CLUBE DA ESQUINA N.2" (VOZ E VIOLONCELO)

Um presente aos assíduos e queridos visitantes deste blog de devaneios semi-superficiais e reflexões quase profundas. Marcelo Vieira apresenta sua versão para o "Clube da Esquina n.2", de Lô e Márcio Borges, na Universidade do Estado da Louisiana (EUA). Essa apresentação é divina. Assistam até o final. É de arrepiar.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

UM POUCO MAIS DE CALLAS: "VOI LO SAPETE", DA CAVALLERIA RUSTICANA (LONDRES, 1973)


Uma rainha, uma aparição. Morreria apenas 4 anos depois desta apresentação, vitima de um coração partido, em seu solitário apartamento na Rua Georges, em Paris.

domingo, 22 de novembro de 2009

PARA VER E OUVIR: MARIA CALLAS CANTA "MIO BABBINO CARO" (JAPÃO, 1974)


Callas, eterna, imortal, inesquecível, insuperável. Ela se envergonhava desta que é uma de suas últimas apresentações públicas. Para a diva, Tóquio havia sido um desastre. Ao observarmos sua performance neste vídeo, impecável, precisa, percebemos o quanto essa deusa imperfeita foi dura consigo mesma por toda a sua vida. Centenas de cantoras líricas atuais dariam a vida para serem eternizadas nesta "apresentação vexaminosa" aos altos padrões de Callas. A apresentação é bela, tocante, com essa vibrante e doce voz inconfundível de anjo que Callas gravou para sempre em nossas mentes e corações. Inesquecível.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

"SLEEVEFACE"


Algumas pessoas transpiram criatividade. O "sleevefacing" é um exemplo disso. A técnica - absurdamente pop-art - consiste em pegar uma capa de disco (geralmente vinil) e se mesclar a ela da melhor forma possível, respeitando o cenário, roupas, cabelos etc. Genial. Para quem se interessar, a dica é o site sleeveface.com. No detalhe, uma menina brinca com a capa da trilha sonora de "Encontros e Desencontros".

ILUSTRANDO


The wanderer above the mists (1818) - Caspar David Friedrich

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

PRIMEIRA IMAGEM DE "SOMEWHERE"


Os filmes de Sofia Coppola são assim, meio como ela: silenciosos, discretos, em um ritmo diferente do mundo. Isso define também sua visão e estética e faz dela uma diretora original e absolutamente acima da média. Os filmes de Sofia Coppola começam assim, meio como sonho: um sopro, uma ideia, um sussurro de novidade e vão ganhando força, como o vento, até se materializarem em cinema. A história de "Somewhere" narra a vida de um ator "perdido" e sem rumo na vida e que habita o Chateau Marmont, famoso hotel de Hollywood. Um belo dia, ele recebe a visita inesperada de sua filha de onze anos, que o faz repensar sua existência até então. Sua filha se transforma na sua última chance de retorno e conexão com a realidade. No elenco principal, Stephen Dorff, Elle Fanning e Michelle Monaghan. "Somewhere" tem roteiro e direção de Sofia Coppola e, diz-se, é inspirado em muitos momentos da sua vida. Vamos aguardar, então.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

PARA VER E OUVIR: LUDÉAL ("ALLEZ L´AMOUR")


Um brinde ao amor e ao cinema, repleto de deliciosas homenagens...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

ÁGUIA E LOBO, TÃO PERTO, TÃO LONGE

Eis a cena mais comovente de "O Feitiço de Áquila" (Ladyhawke): a história de dois amantes, separados por uma maldição. Ele, lobo à noite. Ela, águia pela manhã. Sempre juntos, eternamente separados. Na tênue costura entre a madrugada e o crepúsculo, porém, os dois tem uma chance breve de se reencontrar. Mas, ainda assim, não é suficiente. Quem já viu esse filme sabe do que estou falando; da angustiosa corrida de Navarre e Isabeau para se reverem, nem que por alguns segundos. É de cortar o coração.

PARA VER E OUVIR: DAVID BOWIE ("HEROES" LIVE 1977)


Too cool for school.

PARA VER E OUVIR: DAVID BOWIE ("SPACE ODDITIY")

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A NORA DOS SONHOS (?)


"My sassy girl" (Ironias do Amor) é um daqueles filmes que poucas pessoas darão muita bola. Nem chegou ao cinema (foi lançado diretamente em DVD), não possui um elenco estelar e é uma refilmagem de um filme sul coreano. Bom, eu tenho uma queda por este tipo de filme, meio "underdog" e "Sassy" é justamente aquele filminho bobo, sem pretensão, que a gente acaba pegando por acaso na TV e nem percebe que estamos vendo até o final, para ver no que dá. É um filme bobo, sim, recheado de deliciosos clichês e roteiro inocente (mesmo a refilmagem possui um intenso tempero da inocência oriental); mas é um filme delicioso, adorável e que recomendo a qualquer pessoa de bem que deseje assistir a algo banal mas que faz sorrir. Isso define "Sassy Girl":  um filme banal, que faz sorrir e pode até emocionar. Tudo depende do humor de quem vê. O filme narra a história de Charlie (interpretado por Jesse Bradford), um rapaz do campo que vai para a cidade grande em busca de realizar conquistas profissionais idealizadas pelos seus pais. Num acaso do destino, ele esbarra em Jordan (Elisha Cuthbert), uma menina rica e avoada, mas marcada por uma grande melancolia que não revela a ninguém. Ou pelo menos tenta não revelar. Jordan é uma mistura de Claire (de "Elizabethtown") e Sarah (de "Serendipity"), uma menina linda, encantadora e cheia de personalidade. Ela, que é destemida e cheia de vitalidade, é o oposto de seu par, Charlie, um rapaz quieto de poucas ambições. Os dois, juntos, formam um estranho casal que por alguma razão - que só vamos entender ao final - não consegue ficar junto. Jordan provoca Charlie e leva-o aos extremos da raiva e da paixão. E desaparece, como um sonho. Mas ela tem seus motivos que, estranhos ou justificados, compreendemos eventualmente. O filme possui direção elegante, bela fotografia e trilha sonora e se passa em Nova York, como toda boa comédia romântica. Meu momento preferido do filme é a cena no parque, em que Jordan pede a Charlie para andar até outro extremo para verificar se ele consegue ouvi-la; único momento em que ela consegue dizer a ele parte do turbilhão de emoções que ela sente. Como ele não pode ouvi-la, a cena possui um aspecto muito doce, eloquente e comovente. Elisha Cuthbert, que todos conhecem como a filha de Jack Bauer na séria "24h", na verdade, está muito bem neste papel, que seria perfeito para Kirsten Dunst há alguns anos. "Ironias do Amor" é um filme delicado, pequenino e que não recebeu nenhum grande mérito ou elogio (as críticas, aliás, não são boas). Mas garanto que dará boas surpresas a quem lhe der alguma chance. Recomendo.

domingo, 8 de novembro de 2009

E SE A ÚLTIMA PESSOA DO MUNDO PARA TE SOCORRER FOSSE... VOCÊ MESMO?


"Moon", filme do estreante Duncan Jones (filho de David Bowie) é um filme impressionante. É épico, original, assustadoramente interessante. "Moon" é um filme sobre solidão e silêncio. Sobre realidades que se descortinam por detrás do óbvio. É como uma pequena porta que se abre e revela um abismo. Não sei bem ao certo como explicar esse filme, tampouco resenhá-lo. É um filme excelente, imperdível e uma experiência única para qualquer fã de ficção científica. Estrelado por Sam Rockwell, no papel do astronauta Sam Bell, o filme narra a história de um mineiro lunar, preso numa base claustrofóbica na lua (referências a '2001' de Kubrick transbordam). Há 3 anos, Sam está numa base lunar em busca de energia alternativa para o planeta terra. Sua única companhia é um robô adorável chamado Gerty (voz de Kevin Spacey). Na rotina do dia, monitorar "escavadoras", fazer exercício e se perder em devaneios e saudade de sua mulher e filha, que estão na terra. Um belo dia, algo foge do controle, e um acidente muda o mundo (ou melhor, a lua) de Sam de cabeça para baixo. Ao acordar na enfermaria, Sam decide voltar ao local do seu acidente. Para sua surpresa, encontra a si mesmo ali, inconsciente. Ao trazer o outro Sam de volta para a base, uma série de eventos se desenrolam numa trama surpreendentemente complexa para um filme com apenas 2 personagens, um cenário e pouco mais de 2 músicas. Sam passa a conviver com o outro Sam e nenhum dos dois chega a um consenso sobre "quem é o clone de quem". Mal sabem ambos que a solitária base lunar ainda guarda muitas surpresas. Por baixo da penumbra e do silêncio da lua, "Moon" transpira filosofia e metafísica ao mostrar questões impossíveis e a história de dois homens iguais e opostos que descobrem, mais cedo ou mais tarde, que devem um ao outro imensa cumplicidade. Muito ainda vai ser falado sobre esse filme pequenino e precioso. Um filme de silêncios e deliciosos socos na barriga. "Moon" é um filme que nos leva para a lua e nos puxa de volta, como numa montanha-russa. Imperdível.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

PARA VER E OUVIR: MISSA EM DÓ MENOR (KYRIE), DE W.A. MOZART


A entrada da soprano Miah Persson é de dilacerar o coração.

PARA VER E OUVIR: TRISTES APPRÊTS, PALES FLAMBEAUX (J. P. RAMEAU)


Belíssima - e doída - apresentação da Mezzo-soprano Magdalena Kozena.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

FLOWER

Para aqueles que acreditam - erroneamente - que videogames se reduzem a tiros, explosões, guerras e coisas do gênero, eis que geniais desenvolvedores surgem com um jogo que é belo, simples, mágico e poético. Trata-se de "Flower". Exclusivo da Playstation Network, "Flower" dá ao jogador o papel de ninguém menos que o Vento. Em primeira pessoa, "com os olhos do vento", navegamos pradarias e paisagens de sonho, brincando com a grama como se estivéssemos penteando-a, levando em nosso trajeto pétalas de flores coloridas que se abrem com a nossa passagem. Tudo isso ao som de melodias doces que fazem deste jogo não uma diversão rápida, mas uma experiência de paz e profundo relaxamento. Terapêutico. "Flower" é um jogo, claro. E há objetivos a serem cumpridos. Mas tudo é feito com tamanha beleza que dificilmente alguém estará preocupado com o andamento do jogo e muito mais em se entregar na corrida leve e sem pretensão do vento. Lindo, lindo demais.

PARA VER E OUVIR: SARAH MCLACHLAN ("ANSWER")


Lindo. A voz de um anjo, sempre.

domingo, 1 de novembro de 2009

A GENIALIDADE SEM LIMITES DE CHAPLIN


Esta cena inesquecível de "O Grande Ditador" é de fazer dobrar de rir. Dizem que nem o próprio Hitler aguentava o absurdo da imitação e ria desta deliciosa e impossível caricatura.

A SOMBRA DO VENTO


Barcelona, 1945. Daniel Sempere completará 11 anos e ganha um presente especial de seu pai: uma visita a um lugar misterioso e fantasmagórico, "O Cemitério dos Livros Esquecidos". Trata-se de uma biblioteca secreta, onde Daniel descobre o autor Julián Carax e seu livro "A Sombra do Vento". O garoto se encanta pela obra e decide investigar mais sobre seu escritor desconhecido e descobre que alguém vem queimando sistematicamente todos os exemplares de todos os livros que Carax já escreveu. Na verdade, o exemplar que Daniel tem em mãos é tudo o que restou. A curiosidade infantil se converte rapidamente numa cruzada obscura e repleta de segredos. Romance e medo se costuram diante dos olhos de Daniel ao passo que ele segue em sua jornada para desvendar os mistérios em torno de Carax e um livro maldito que mudará a vida de Daniel para sempre. "A sombra do vento", bestseller de Carlos Ruiz Zafón é um daqueles livros que descobrimos fortuitamente (ou melhor, que nos descobrem) e simplesmente é impossível de largar. As ruas de Barcelona, seus suspiros e murmúrios, narram segredos e belezas que fazem deste um livro precioso e de leitura obrigatória. Para quem se interessar, uma passagem que me roubou alguns bons arrepios. O garoto Daniel, de uma varanda, percebe que um estranho o observa da rua:

"Vestia uma roupa escura, uma das mãos afundada no bolso da jaqueta, a outra acompanhando o cigarro que largava um rastro de fumaça azul em volta do seu perfil. Observava-me em silêncio, o rosto oculto na contraluz da iluminação da rua (...) a figura assentiu de leve com a cabeça, uma saudação atrás da qual intui um sorriso que não podia ver. Quis responder, mas estava paralisado. A figura virou-se e a vi se afastar, mancando ligeiramente (...) Tinha lido uma descrição idêntica daquela cena em A Sombra do Vento (...) Na cena que eu acabara de presenciar, aquele estranho poderia ser qualquer noctívago, uma figura sem rosto ou identidade. No romance de Carax, aquele estranho era o diabo".

PARA VER E OUVIR: "LASCIA LA SPINA", DE HÄNDEL


É lindo de doer. Soprano: Cecilia Bartoli.