segunda-feira, 12 de julho de 2010

"O QUE VOCÊ QUER SER QUANDO CRESCER?"


É com essa famosa reflexão infantil que começa "O Pequeno Nicolas" ("Le Petit Nicolas"), filme francês baseado no livro homônimo de René Goscinny. Ministros, ciclistas, empresários, bandidos, policiais. São inúmeras as opções que o pequeno Nicolas vislumbra para os seus colegas de classe. Ele, no entanto, não consegue responder a essa pergunta. Porque Nicolas quer ser exatamente quem ele é: filho único, um menino amado por seus pais carinhosos e que vive uma vida confortável e alegre em Paris. Nicolas não quer ser bombeiro, cowboy ou astronauta. Ele quer ser, para sempre, o pequeno Nicolas. 

Nicolas quer ser exatamente ele mesmo quando crescer.

Essa premissa é mais do que suficiente para construir um filme absolutamente mágico e encantador, que se desenrola na tela como se estivéssemos ouvindo uma história de ninar. Mas eis que Nicolas suspeita que a sua realidade perfeita pode estar ameaçada: ele imagina que a sua mãe está grávida. A ideia de ganhar um irmão é absolutamente aterrorizante e Nicolas e seus amigos partem numa verdadeira cruzada para "resolver" esse problema com um arsenal de ideias que envolvem gangsters, intoxicação infantil, um cassino clandestino, entre inúmeros planos não muito bem sucedidos, mas que rendem situações absolutamente hilárias e improváveis.

Nicolas e sua trupe: criatividade para resolver o grave problema de se ganhar um irmão.

O filme é inteiramente construído de forma delicada e sutil, com muita dedicação em nos forçar a enxergar o mundo por olhos infantis: os planos baixos (com adultos gigantes), cenários exagerados para ilustrar a percepção sempre hiperbólica de uma criança e a deliciosa fantasia de que qualquer coisa no mundo é possível. "Le Petit Nicolas" consegue, ao mesmo tempo, manter esse tom infantil (quase bobo) sem jamais deixar de interessar os adultos. É uma linda história, sobre um tempo de inocências possíveis, onde meninos da década de 60 se divertem com pouco e fazem dos dias banais de escola aventuras inesquecíveis. Até que, enfim, entre tantas estripulias, Nicolas possa responder com muita convicção à pergunta impossível formulada por sua professora. Adorável, inesquecível e imperdível.

Nenhum comentário: