quarta-feira, 25 de agosto de 2010

SABER DA VIDA

"O que sei eu sobre a vida?". Esta reflexão é, para mim, tão antiga quanto as mais remotas lembranças. Lembro de ter pelo menos cinco anos de idade e, conversando com colegas de recreio, ter a plena certeza de que já havia "entendido" tudo a ser compreendido. Jovem, adolescente, universitário. Sempre me imaginava em plena compreensão da vida. E hoje, com três décadas completas, vejo o como eu realmente nunca soube de nada. No entanto, contraditoriamente, eu me acho novamente senhor de "tudo o que tiver a ser sabido sobre a vida".

Mas o que sei eu sobre a vida? Dada essa minha experiência de mais de 25 anos em, olhando para trás, perceber que eu nunca soube nada sobre nada; só posso crer que eu, realmente, não sei absolutamente nada sobre a minha vida. Sobre a existência. Ainda que eu ache que sei tudo. Porque tenho certeza que, quando completar 40 anos, olharei para esses dias de hoje rindo da minha inocência. E quando completar 50 darei risada dos meus 40. E assim por diante. Imagino.

Mas se, de fato, isso é algo progressivo, ou seja, nós sempre sabemos de tudo e vamos descobrindo gradualmente que não sabemos de nada, então não chegamos a nenhum lugar de plena sabedoria! Ou, pelo menos, sabedoria REAL. Porque, por esse meu raciocínio de filósofo de orelhas de livros, se eu chegar aos 100 anos vou me imaginar sábio e terei pena do meu eu aos 90. Mas e se eu fizer 110 anos me enxergarei ignorante aos 100!

Acho, em verdade, que não há nenhuma sabedoria a ser dominada no sentido de "saber sobre a vida". Talvez porque essa sabedoria tenha prazo de validade e expire conforme passem os anos. Afinal, que sabia eu da vida aos cinco anos? Sabia dos lanches, do recreio, das figurinhas e dos super-heróis. E sabia de tudo isso com muita propriedade. E, assim, sabia de tudo sobre a vida. Naquela época. O mesmo vale para as etapas seguintes, de modo que hoje eu sei tudo sobre a minha vida sem que isso exclua o fato de que, em 10 ou 20 anos, eu saberei que, na verdade, nunca soube sobre nada.

Haveria algo melhor, então, do que simplesmente viver um dia após o outro? Quando ingresso nessas minhas infrutíferas caçadas ao meu próprio rabo, constato que há uma bênção na mais profunda ignorância. No sentido em que o melhor a ser feito é abraçar o dia de hoje porque nada se sabe sobre o dia de amanhã. Com isso, essa angústia existencial é resolvida com uma xícara de café fumegante e a observação da chuva insistente na janela.

E sorrio, com a certeza, mesmo ignorante, de que sou feliz.

2 comentários:

Purpleing. disse...

estive lendo seu blog, que encontrei por acaso em uma busca por um filme...e, bem, o modo como você escreve e coloca a sua opnião...
enfim, irei acompanhar e, realmente, esse é um dos melhores posts que li por esses dias, nesse mundo blogueiro...
;)

ione gonzalez disse...

Ser feliz,mesmo estando triste..poder se dividir,pois NUNCA está tudo bem..
algo está bem,algo não está...a sabedoria voce já tem,então.
Lacan diz assim ''savoir y faire''que quer dizer:''saber aí fazer'',quando a situação se apresenta..sabe???
Sua certeza de ser feliz é muito sabia,:)).