sábado, 11 de fevereiro de 2012

O QUE HÁ POR TRÁS DAS JANELAS INVENTADAS?

Martin é um jovem webdesigner, que padece de todos os males urbanos como pânico, solidão, sedentarismo, fobia. Todos, menos o suicídio. Mariana é uma linda arquiteta, vivendo um momento de limbo, perdida entre dois mundos, sem saber exatamente o que quer ou que o fazer. Os dois habitam Buenos Aires e partilham muito mais do que jamais imaginariam. Essa é a trama de "Medianeras", filme escrito e dirigido com muita propriedade por Gustavo Taretto.

Martin (Javier Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala) gostam das mesmas músicas, dos mesmos filmes. Ocupam suas respectivas solidões com as mesmas brincadeiras, passatempos e relacionamentos vazios e ocasionais. Mais, os dois moram no mesmo bairro, mesma rua, em prédios que ficam de frente um para o outro.

Os dois habitam os tais "monoambientes", as famosas "quitinetes" do Brasil: ambientes pequenos ("caixas de sapatos"), escuros e claustrofóbicos. Modernos prisioneiros de uma grande metrópole que, com sua arquitetura caótica e opressiva, é a grande vilã do filme e a principal responsável pelos dois - que são perfeitos um para o outro - jamais se encontrarem. Ainda que se cruzem todo o tempo.
Como Wally, Mariana é uma solitária perdida entre a multidão. De sua janela inventada, procurando algo que nem ela sabe exatamente o que é

O nome do filme é uma referência a uma controversa (e mal seguida) lei local. Esses prédios recheados de micro-apartamentos não permitem a existência de janelas, de maneira que as pessoas habitam cavernas escuras, úmidas e desoladas. Até que, pouco a pouco, essas janelas vão surgindo de forma desordenada e ilegal, sem nenhuma regra ou padrão nas paredes cegas que separam esses prédios. As tais medianeras. Centenas de milhares de olhos abertos a marretadas nestes grandes blocos residenciais. Uma desesperada ação de busca à luz. Algo que tanto Martin quanto Mariana fazem e, naturalmente, ao mesmo tempo. 
Martin é outro refém da moderna solidão urbana; em busca diária de reinventar a sua vida

Medianeras é um filme sobre a solidão urbana. Sobre as pessoas solitárias, trancadas em seus apartamentos, vivendo uma vida que, muitas vezes, não se descola do plano virtual. Pessoas perdidas, desencontradas, que sonham todos os dias em esbarrar em algo; ainda que ninguém saiba exatamente o quê. Martin anseia por algo; uma renovação, um reaprendizado, uma reinvenção. Mariana, de sua janela inventada, caça o Wally na cidade. O único mapa, de seu livro predileto, que ela não conseguiu solucionar. E ficamos na expectativa, torcendo por eles, lamentando seus erros e simpatizando com suas dores, na fé de que as coisas acabem se resolvendo ao final. No caminho, um emaranhado de ruas, acasos e desencontros. 
Um delicado filme sobre a solidão, recheado de pinceladas mágicas que só os mais ávidos contempladores de janelas perceberão com a devida profundidade

Um lindo pequeno-grande filme. Uma história delicada sobre o amor moderno que, quase literalmente, invade as nossas vidas pela janela. Um filme sobre a real solidão e a luta desajeitada em vencê-la. Um filme que fica.

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