quarta-feira, 9 de maio de 2012

O FAROL

"[...]por mais que tenhamos sempre a opção de não mais deixar que nos assustem, você foi um anjo que invadiu meu espaço aéreo. Engraçado como conseguimos o que desejamos quando temos força para pedir isso intensamente e eu devo ter pedido por você, contudo inglória é a forma de conceber este encontro em meio a coisas que não podem ser ditas ou sentidas. Mas temos sempre várias opções em cada fato que nos acontece e eu escolho ter meu espaço aéreo invadido por você, que irá descobrir, um dia, quem sabe, que tudo pode ter dado errado no passado, mas também que tudo pode dar certo comigo".

***

Ele contemplou por horas aquelas palavras escritas a mão, com pressa, por ela. Aquela caligrafia sem ensaio, reflexo do que ela tinha a dizer, sem premeditação. Segurava o papel em suas mãos, como um mapa do tesouro e se ele fechasse os olhos, por alguns instantes mágicos, conseguia sentir o cheiro dela, o seu toque, o sabor do seu corpo. Mas então tudo desaparecia com o vento gelado que invadia o seu corpo e o obrigava a abrir os olhos para aquela paisagem árida, vazia que ele atravessava.

Aquela despedida estranha. Aquela despedida sem sentido. Ele havia partido, com a cabeça inebriada por pensamentos de mudança quando cada osso, cada célula de seu corpo suplicava que ele permanecesse ali. Exatamente ali. Invadindo aquele espaço aéreo, descobrindo que tudo poderia dar certo com ela. Sem ir a lugar algum. Mas inglória era a forma de conceber aquele encontro. Ela estava certa. Sempre esteve.

Ele estava longe, quando aquelas palavras voltaram feito onda. Sentiu-se afogando naquele oceano de reflexões confusas, naquelas águas negras dos equívocos que marcavam a sua vida adulta. Ele naufragava. 

Agarrou-se àquelas palavras na sua noite mais escura. Seu corpo tremendo de medo, de frio. Sentia-se abandonado pelo destino. Sozinho. Bestializando-se. Desistindo. Até que viu um raio de luz no horizonte. Aquele sinal, aquele código secreto, inesperado, aquela orientação, aquela manifestação com um quê de miragem.

Percebeu, então, que ela sempre esteve ali. Distante, brilhando em algum ponto do seu horizonte envolvido em sombras. Ela estava ali, de alguma forma, emanando luz. Não deixando-o se perder muito do caminho, impedindo-o de esquecer a estrada da volta. Aquele barco sem bússola.

E, acompanhando aquela luz distante, como quem contempla uma estrela, ele pulou na água feito um cão sem dona. Ansioso, desesperado, para voltar. E ali, parado, flutuante, decidiu nadar maré acima. Em busca daquela luz.

Era hora de retornar. Para o seu Farol.

Um comentário:

Anônimo disse...

Volte..nunca deixe de nadar até lá.