quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

ILUSTRANDO

Marko Manev - "Homem de Aço", da série "Noir Super-Hero"

I DO

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

VIDA NUM FRAME

Sofia no set de filmagem do seu pai, Francis Ford Coppola.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

domingo, 24 de fevereiro de 2013

PARA VER E OUVIR: MS MR ("BONES")



"These are hard times
These are hard times
For dreamers
And love-lost believers"

PARA VER E OUVIR: FRANK SINATRA ("NIGHT AND DAY")

UM FILME MÁGICO. E BELO QUE DÓI

Uma resenha minimalista para um filme minimalista, porque não acho justo estragar os sentimentos que este filme me provocou com palavras e descrições. "As aventuras de Pi" (Life of Pi // dirigido por Ang Lee) é um filme que transcende a linguagem, a mídia. É um experiência visual que precisa ser vivida, sentida para ser compreendida e apreciada em sua totalidade. É um filme para se ver despido de qualquer julgamento, qualquer expectativa e simplesmente deixá-lo nos levar a onde quer que ele esteja indo.

O filme narra um momento icônico na vida de Pi, que leva este nome em homenagem a um tio que amava uma piscina pública de Paris. Pi, desde criança, era um menino especial, questionador e sensível que, eventualmente, acabou se tornando hindu, católico e muçulmano - ao mesmo tempo. Por um desenrolar de eventos, ele se vê num navio japonês, imigrando com a sua família da Índia para o Canadá. Mas no meio do oceano, o navio vai à pique por conta de uma forte tempestade e, após a tormenta, o jovem Pi se vê no meio do nada dividindo um bote salva-vidas com um tigre de Bengala gigante e feroz, chamado Richard Parker.

Dois companheiros improváveis de viagem

No presente, Pi está conversando com um autor que sofre de bloqueio criativo - de modo que sabemos antecipadamente que tudo acaba bem. Esta linda história, portanto, é sobre o meio, a jornada. E ideia de chegar a algum lugar (seja ele qual for) e a obrigação de dividir o espaço com um companheiro improvável, sobrevivendo por quase um ano no oceano.

Sem sombra de dúvidas, Pi vive uma aventura além do inacreditável, recheada de momentos mágicos, surreais, oníricos e, diversas vezes, assustadores. Seu tigre, eventualmente, acaba passando de ameaça para propósito de vida, até sermos presentados ao final com reflexões profundas, de uma beleza sem igual, que me fizeram querer buscar a companhia de lenços descartáveis, confesso sem pudor. 

A sobrevivência inevitavelmente aproxima os dois companheiros improváveis

Mágico. Um filme mágico. E belo que dói.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O CAOS ESTÁ CHEGANDO

OS MENINOS PROTEGIDOS

"Havia algo na água", mamãe nos dizia, quando eu e meus irmãos tomávamos banho no lago com o resto das crianças. Aqueles dias quentes de verão em que abandonávamos com incompreensão a água que gelava deliciosamente os nossos corpos magricelas e imberbes.

Saíamos, obedientes, com olhos chorosos e ela nos falava de seres submersos, dragões marinhos e todo o tipo de entidade que habitava aquelas águas. Sentíamos medo, claro, mas ao mesmo tempo passávamos madrugadas em claro dando nomes, inventando histórias, criando mitos para aquelas criaturas que viviam ali.

Não deveríamos cogitar brincar no bosque, também, éramos avisados. Aquela mata fechada, cheia de animais e monstros, e fadas e bruxas. Mamãe nos contava de mantícoras e grifos, e duendes escondidos em cavernas, com seus tesouros que ninguém deveria se atrever a roubar.

Ela mencionava todo o tipo de contos e lendas, e detalhes misteriosos sobre os habitantes da mata em que planejávamos brincar. "Não se deve caminhar por lá", ela alertava, antes de começar a correr atrás de nós pelos corredores gigantescos daquela casa onde hoje depositamos as nossas memórias infantis.

Para tudo havia uma história, um elo mágico com algum tipo de evento absurdo e inexplicável... a altura da copa das árvores, as calçadas movimentadas, as conversas com estranhos; porque não deveríamos beber nem fumar como os meninos legais faziam. Porque não deveríamos fazer as meninas chorarem - "em hipótese alguma". Porque não podíamos brigar uns com os outros, porque deveríamos perdoar e sorrir e sermos cordiais. Todos os motivos pelos quais deveríamos cuidar dos nossos avós, e dos animais, e das crianças.

E das coisas.

Mamãe se escondia sob as cortinas para nos dar sustos e nos ajudava a fazer os melhores acampamentos - no fundo do nosso quintal - onde saboreávamos lanches que ela trazia para nós. E então nos explicava as propriedades especiais de cada uma daquelas comidas. Sanduíches que nos dariam mais coragem, sucos de frutas mágicas que nos deixariam mais fortes, bolinhos que davam sorte, biscoitos que faziam sonhos acontecerem. "Eram todas receitas perdidas, em livros há muito esquecidos", ela explicava.

Queríamos viver aventuras e ela então nos levava ao cinema; o mesmo valia para o parque ou a praia, onde ela sempre nos observava com olhos cautelosos e nos estabelecia limites que traçava com linhas imaginárias, nos impondo prendas e desafios. Em nossos pensamentos sem fronteira, fazíamos castelos e cabanas e minas e enseadas de onde contemplávamos reinos e labirintos e cidades encantadas.

Aqueles anos lindos, que compõem a matéria do que é inesquecível.

* * *

Ficamos devastados, claro, quando chegou o tempo em que ela já não se lembraria de mais nada daquilo. Ou de nós mesmos, até. Mas não importava; o que importava era que nós lembrávamos. De tudo, de cada minuto, de todos os detalhes. Aquelas memórias que aqueciam o peito.

Porque, no fim das contas foram estas as lembranças que ficaram; as marcas permanentes, quando a vimos pela última vez. E em nossas despedidas mais sinceras, eu sabia que todos os outros sentiam o mesmo.

Hoje, passados tantos anos, entendemos que ela só tinha medo de que nos machucássemos; que nos feríssemos à toda, que algo ruim acontecesse com a gente. Era o jeito dela.


Afinal, fomos todos nós meninos perdidos e protegidos, nesta nossa infância privada de perigos.

Mas, ao mesmo tempo, que infância tivemos.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

PARA VER E OUVIR: BROKEN SOCIAL SCENE ("LOVE WILL TEAR US APART")


Versão perfeita de um dos hinos inesquecíveis do Joy Division numa das cenas mais bonitas de "The Time Traveler's Wife": a dança de casamento de Henry e Claire.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

PARA VER E OUVIR: PATRÍCIA MARX E SEU JORGE ("ESPELHOS D´ÁGUA")


Patrícia Marx de volta com uma releitura de algumas músicas no disco "Trinta".

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O LAMENTO DO FALCOEIRO

Ainda eram vivos em seus lábios os beijos da sua mulher; aquele sabor salino, com algo de suor e canela. Aqueles beijos que antecederam ao exílio, à chefia solitária da Rocha, a fortaleza abandonada no final da última estrada que levava ao fim do mundo. Ele deveria ser o Guardião da Rocha, punição sumária pelo crime imperdoável de matar um veado para alimentar a sua família.

O caminho foi longo e tortuoso, cruzando um sem número de vilarejos abandonados e um território cada vez mais inóspito. Tinha a sensação que o mundo ficava mais cinza a medida que avançava; as pradarias ficando para trás e dando lugar a vales escuros onde ele podia jurar que seres o observavam das sombras.

Olhava para o céu, sentindo o sol torrar o seu rosto e secar as lágrimas que escorriam numa torrente pelas suas bochechas. Ainda conseguia ver o rosto aterrorizado do seu filho, sendo entregue para alimentar os tigres e ouvia os gritos desesperados da sua mulher, enviada para a escravidão daquelas que atravessam a vida deitadas.

Chorava, soluçava, esmurrava a sela do cavalo enquanto emitia gritos guturais que não podiam ser ouvidos. A sua única companhia era o seu fiel falcão, com quem caçava todas as manhãs; para quem contava as suas histórias. E a ave parecia escutar com atenção, como se de alguma forma compreendesse o que ele dizia.

O pássaro que levava o nome de seu filho, Mordecai, o mesmo nome do seu pai, do seu avô e pelo menos uma dezena de outros grandes homens antes deles. Homens afinal esquecidos. Como ele era agora.

"Voa, Mordecai, voa!", ele empunhava a ave e a arremessava. E seguiam juntos pelo caminho sem fim.

Chegaram ao destino e perceberam rapidamente que não havia muito ao redor, nada para ser guardado, a não ser as ruinas daquele bastião esquecido, as colunas do que um dia havia sido um salão esplendoroso, as telhas espalhadas pelo chão, as paredes tomadas pelo mofo e por trepadeiras. Restos de móveis e pedaços de coisas incompletas.

Havia grama na altura dos joelhos por todos os lados daquele grande rochedo que se lançava ao mar como a proa de um navio e que evidenciava a existência, num tempo mais que esquecido, de uma fortaleza dedicada a manter o reino seguro de piratas e invasores. A Rocha.

Os dias passavam de forma lenta no rochedo. E eram muitos os dias.

Ele apoiava seus cotovelos nas seteiras para ver o sol se pondo no oceano. Fazia isso todos os dias. A gigantesca moeda, desaparecendo na imensidão azul que os cercava, enquanto o falcão se perdia entre as nuvens, tomando por reino a linha do horizonte. A ave gritava, a plenos pulmões, e ele assobiava de volta.

Aquele triste parlamento entre amigos.

A vida era simples no rochedo. Consertos possíveis, limpeza, o estabelecimento de uma cela limpa onde ele passaria o resto dos seus dias. Caçava, limpava os animais abatidos, cozinhava, costurava, banhava-se num córrego lamacento, onde também pescava e caçava rãs.

Em dias mais felizes achava framboesas que o faziam gritar como se tivesse encontrado um tesouro. No resto do tempo, afiava as suas armas, pensando em vinganças. E lá no alto, cercando os seus pensamentos distantes, estava a ave, Mordecai.

"Você me trará os seus olhos, Mordecai", ele murmurava olhando o seu amigo quase desaparecendo lá em cima, "de todos eles". E era como se a ave o ouvisse, porque sempre respondia a esses murmúrios com um sonoro grito de rapina.

Mas também essas juras o escapavam e ele era vencido pelo tédio naquele lugar onde o tempo corria num movimento diferente. Subia correndo para a murada, a única que ainda estava de pé e erguia o braço, feito um farol.

O falcão então planava em sua direção, com a agilidade de uma flecha e a graça de um dançarino,  as gigantes asas abertas, enquanto encaixava as garras com gentileza em seu antebraço. Olhavam-se profundamente enquanto ele acariciava as suas penas, antes de calçar-lhe o ornamentado capuz de couro vermelho. O falcão parecia agradecê-lo, ele podia sentir.

Voltavam juntos para o alojamento improvisado, onde o pássaro se empoleirava ao seu lado enquanto aproveitavam a fogueira. Comiam juntos coelhos, patos ou o que quer que conseguissem caçar juntos. E juntos adormeciam sob o silêncio das estrelas e o barulho do mar quebrando nas pedras.

Um dia, porém, eles foram surpreendidos por um inverno mais rigoroso e ele sentiu fome pela primeira vez. Quando engoliu a última gota de cerveja quente sentiu medo. Olhou para o pássaro, com o estômago rasgando em sua barriga mas resolveu ignorar aqueles pensamentos absurdos. E adormeceu com a dor que corroía as suas entranhas.

"Você é tudo que me restou, Mordecai".

Pela manhã, saiu cedo para caçar, mas a única coisa que conseguiu matar foi um punhado de sapos. A vida estava cada vez mais difícil no rochedo. Sentou-se com o falcão ao redor da fogueira, abraçando o seu corpo e tentando se aquecer de alguma forma. Sentia os seus o pés cada vez mais distantes e as pernas dormentes enquanto terminava de chupar os ossos pequeninos do último sapo que haviam caçado. Tremia de frio, de fome, de medo, de solidão. Estendia o braço à ave apenas para ser tocado.

Após semanas, notou que as roupas já penduravam como se fossem escorregar a qualquer momento. Foi quando ele compreendeu que estava definhando. Não tinha forças para caçar, ele notou, observando o grande planalto coberto de neve e o horizonte cinza que os cercavam. Mal conseguia ficar de pé. Com dificuldade, caminhou para dentro da Rocha e deitou o seu corpo no chão. A barba já alcançava a altura do seu peito e, através dos seus olhos semi-cerrados, conseguia ver a ave não longe dali.

"Você precisa ir embora, Mordecai, e voar para longe", sussurrou. "Este é o fim".

Novamente as lágrimas despencavam pelo seu rosto, umedecendo a pele seca pelo frio. Pensava na sua mulher, no seu filho e desesperava-se de não conseguir mais lembrar dos seus rostos. Rezava por eles, onde quer que eles estivessem; em breve estariam juntos talvez, mas lamentava não ter conseguido cumprir a sua promessa.

"Vocês não saberão quem eu sou", soluçava, "este velho que me tornei..."

E então fechou os olhos para dormir. Aquele sono profundo do qual jamais acordaria.

A ave Mordecai gritou e gritou e gritou e então planou ao redor da Rocha por horas até pousar delicadamente sobre o corpo do seu mestre, ali, abandonado sob a sombra das paredes esquecidas. Bicou com cuidado a sua pele, tentando acordá-lo, sem sucesso. E ali permaneceu empoleirado, como um guardião.

Até que um dia a ave tombou, caindo gentilmente ao lado do corpo que já havia sido engolido pela neve e pela grama. E também ela fechou os olhos, entregando-se ao silêncio. O último guardião do rochedo.



E o resto foi somente cinzas, vento e salitre. Somente histórias que não são narradas, apenas esquecidas, naquela fortaleza caída, de fantasmas antigos e sussurros melancólicos, onde um homem ensinava a falcoaria ao seu filho enquanto a sua mulher cozinhava coelhos fervidos com nabos e batatas. 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

PARA VER E OUVIR: SARA BAREILLES ("SWEET AS A WHOLE")

PARA VER E OUVIR: BRIAN FERRY ("AVALON")

PROPAGANDA DA MARNI (PARA A H&M) DIRIGIDA POR SOFIA COPPOLA


60 segundos, apenas, e está tudo lá. As virgens, a rainha hedonista, as suas crianças perdidas. 

ILUSTRANDO

Edward Hopper - "The Barber Shop"

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

SÃO PETERSBURGO

O cinzeiro no chão transbordava com cigarros de todos os tamanhos e idades. Aquela pilha de pensamentos transformados em fumaça, com mais e menos longevidade. Breves como suas ideias fugazes. 

Olhava para o teto, respirando profunda e lentamente; imóvel, sobre a cama desfeita.

Os pratos acumulados na pia ecoavam uma sinfonia com cada gota que despencava da torneira. Bum, Bum, Bum, Bum. Aqueles trovões impiedosos no apartamento silencioso, tomado por sombras e frio. 

Assoviava. Sabe Deus por que razão.

A janela comunicava a passagem do tempo, seus olhos cansados como telespectadores dos ângulos perfeitos que o sol ía projetando nas paredes do começo ao final de mais um dia. Até as paredes voltarem a esfriar e o céu ser salpicado de estrelas. 

Uma destas estrelas... alguma, entre estas estrelas, há de ser a minha.

Copos e taças decoravam a casa num tema meio fúnebre, meio mórbido, com ar de coisa abandonada. As manchas de vinho e café nos móveis de madeira, adornadas por migalhas de pão tão velhas como as cinzas derramadas do chão. 

Caminhava de pés descalços, lentamente, sem pressa alguma, até apoiar os cotovelos na pequena janela da sala, de onde contemplava um jardim comunitário abandonado. Havia uma história ali, parecia, esquecida, perdida no tempo. Deveria haver.

Não se recordava, com precisão, a última vez que havia comido alguma coisa. Realmente, verdadeiramente. Lembrava-se disso todas as vezes que percebia as calças escorregando-lhe pela cintura, fazendo-o equilibrar o pano fugidio com uma mão enquanto a outra lhe alimentava mais um cigarro.

Olhava-se no espelho, aqueles olhos sulcados, profundos, exaustos. Sentia como se estivesse desaparecendo. Tocava o seu rosto, esticava a pele das bochechas, aquela pele solta, seca, que parecia descolar no contorno do seu maxilar, feito uma máscara de resina. 

Jogou-se na cama, aquele peso do mundo fazendo-o desabar. Foi quando notou algo estranho. Um fiapo, projetando-se do dedão do seu pé; como um pelo, mas grosso, negro e comprido. Melhor, como um barbante.

Esticou a mão e puxou-o, surpreendendo-se com a extensão do fio que surgia magicamente sob a unha. E então espantou-se ao notar que seu dedão desaparecia junto com o barbante, como um pano sendo desfeito. 

Assustou-se. Interrompeu o ato por alguns instantes, mas algo mais forte que ele o impeliu a continuar. E então ele o fez, esticando metros e metros do barbante que já ía se acumulando ao seu redor, como um novelo de lã desfeito enquanto as suas pernas já não estavam mais para serem vistas.

Pensava no absurdo que era aquele desenrolar do seu corpo; aquele desfazimento. 

Meu Deus, estou desaparecendo. Estou realmente desaparecendo. 

Continuou e continuou e continuou até que já quase não lhe sobrava mais nada a não ser o gesto, o ato, a descostura. Lutava desesperadamente por um último pensamento, antes de sumir.

Preciso lembrar de algo, uma última memória. E então foi atravessado por aquela lembrança perdida, completamente esquecida, flutuante no seu imaginário de coisas inúteis.

"Você deve mexer a cintura, meu bem, não os seus ombros", a velha prostituta sussurrava em seu ouvido.

Nem música, nem poesia, nem sensações perdidas. Nem livros, nem filmes, nem sabores, nem sorrisos. Apenas as sardas daquela mulher anônima e aqueles olhos cor de limão, gigantes como os de um gato. Ele deveria mexer a cintura, não os seus ombros. Era isso, afinal, o que lhe restava.


O sol se punha mais uma vez na janela, dando lugar as estrelas que timidamente começavam a cintilar. E o quarto solitário foi então tomado pela penumbra, onde um caracol gigantesco serpenteava a cama num emaranhado de voltas cor de carvão.

PARA VER E OUVIR: JOHN MAYER ("SOMETHING LIKE OLIVIA")


Agora sim, incorporado. Uma das melhores faixas do maravilhoso "Born & Raised".

ALWAYS

 
"For whatever we lose - like a you or a me -
It´s always ourselves we find in the sea."
 
E.E. Cummings

PARA VER E OUVIR: DANIELA ANDRADE ("A DAY WITH YOU")


Para quem tiver um valentine hoje.
E para quem não tiver também.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O ADEUS IMPOSSÍVEL

É um adeus impossível. Simplesmente impossível. Na primeira vez - a inédita - o final de FRIENDS me deixou de cama; literalmente, sem exageiro, sem vergonha de admitir... As outras 4, 5 vezes... bom, o resultado não é muito diferente. 

Não tenho como escrever as mil e uma razões de FRIENDS ser tão importante para mim. Faltam palavras, literalmente - não são suficientes. Simplesmente porque mexem com grande parte da essência de quem eu sou, do que me move, comove e, por fim, me destrói. Coisas demais para refletir... coisas doídas demais. Então, como eles, ao final, eu também sigo em frente, sem olhar para trás. Hesitar é cair. 

Feito andar de bicicleta. 

Um post com trilha sonora.

Mas me espanto, realmente me espanto, como o fim de FRIENDS me acaba mesmo após esta que deve ser a quinta vez que vejo todos os 236 episódios em maratona. São semanas, semanas!, nesta companhia absurdamente virtual, passada e, ao mesmo tempo, REAL, destes 6 amigos que um dia fizeram parte da minha vida e, como tantas coisas na vida, acabaram ficando para trás. Meu Deus, meu Deus, como eu os quero de volta... 

Mas eles não estão em canto algum para serem achados, a não ser na minha prateleira. E isso dói.

O encanto mimado de Rachel; a doce loucura de Phoebe; a solidez inafundável de Monica; o humor ácido de Chandler; a inocência apaixonante de Joey; a instável maturidade de Ross.

Este arco de 10 anos, das incertezas da juventude às preocupações reais da maturidade - casamentos, divórcios, filhos, casas, a passagem do tempo; os risos, as lágrimas, as brigas, as reconciliações. As situações absurdas, os feriados. Tantas coisas, tantas pessoas, tantas lembranças, tantas marcas. Como se eu também estivesse estado lá. Como se também eu tivesse deixado uma chave sobre o balcão do apartamento, como se eu também tivesse parado para uma última xícara de café. 

É um adeus impossível. Impossível.

Até a próxima vez.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

PARA VER E OUVIR: JOHN MAYER ("SOMETHING LIKE OLIVIA")

O novo clip do John Mayer, "Something Like Olivia" (na minha opinião uma das melhores faixas do Born & Raised) já está disponível no seu site. Vale conferir.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

ILUSTRANDO

John Atkinson Grimshaw - "Paintings in the artists house 1878"

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

ILUSTRANDO

Limpadores de janela de um hospital infantil, em Pittsburgh (EUA).

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

"EU TE DESAFIO... A ME AMAR"

Ocasionalmente - e com menos frequência do que eu gostaria - eu sou atropelado por um destes filmes que me reviram pelo avesso. Fico na lona, buscando a placa do caminhão, tentando entender a dimensão do atropelamento. É uma sensação deliciosa, esta de afundar na arte que comove e da maneira como o cinema mexe comigo.

Eis aqui um perfeito exemplo do que estou falando: "Jeux d'enfants" ("Love me if you dare" e "Amor ou consequência", no Brasil), maravilhoso filme estrelado por Guillaume Canet e a [ainda mais apaixonante] Marion Cotillard.

Céus... por ONDE começar para [tentar] falar deste filme?! Ok, vamos lá. 

Julien e Sophie se conhecem desde o tempo da escola e, rapidamente, desenvolvem uma amizade rara, um amor sincero e absurdo um pelo outro, que faz com que eles sejam inseperáveis. Mas não é uma amizade qualquer, baseada em brincadeiras banais e beijinhos escondidos. Os dois criam uma (estranha) cumplicidade em torno de um objeto que eles consideram mágico, como um tesouro: uma lata de biscoitos. E o cobiçado objeto é disputado de uma maneira bem peculiar. Eles desafiam um ao outro com prendas absurdas e o vitorioso tem o direito de ficar com a lata até ser desafiado mais uma vez. 

Julien e Sophie. Um amor antigo.

E assim eles vão "brincando", desenvolvendo uma engraçada [pelo menos para eles - e somente eles] cadeia de eventos que envolve ficar de castigo, punições escolares e todo o tipo de repreensão. "A vida é simples", nos diz Julian, "só é preciso uma caixa e uma linda garota".

Mas o tempo passa, mesmo para Sophie e Julien, e quando eles menos percebem já são dois jovens pré-universitários. E engana-se quem pensa que as prendas ficaram para trás. Bem o oposto. Com a "maturidade" também as prendas ficaram mais sofisticadas. E perigosas...
O cobiçado prêmio...

Com o tempo também vem a desilusão, a inquietude, a incompletude, o medo, o vazio e os dois vão descobrindo que aquela amizade, nascida na inocência de uma brincadeira de criança, acabou fundando neles um sentimento gigantesco, quase incompreensível.

Amor, amizade, cumplicidade. O que são Sophie e Julien um para o outro? Amigos, irmãos, amantes? Eternamente se desafiando, como duelistas incansáveis, eles sentem dificuldade em responder a esta pergunta. E, como dois duelistas, passam também a se ferir...

A complexa história de amor de Sophie e Julien. Os duelistas

A luta acaba afastando-os. É hora de crescer, parece. Abraçar a vida adulta, encerrar os jogos. Casamentos, contas, filhos, casas, empregos, consumo. Mas há algo, este algo sem nome, que une Sophie e Julien, feito gravidade. Então os dois colidem, de forma cada vez mais forte, ao ponto de nos questionarmos - angustiosamente - que rumo a história está terminando. Amor? Tragédia? O quê?!

E, quando menos percebemos, somos capturados pela deliciosamente perigosa brincadeira de Sophie e Julien que parecem não conseguir desvendar, de uma vez por todas, que são almas gêmeas, o amor - o único e verdadeiro amor - de suas vidas.

O jogo parece mais saboroso que a vitória fácil. Parece mais divertido testar, investigar até onde eles são capazes de ir, do que simplesmente abraçarem-se no meio do caminho, de uma vez por todas, e entenderem que foram feitos um para o outro e que precisam - PRECISAM - ser felizes juntos.

Só eles parecem não enxergar a mais óbvias de todas as verdades...

E assim vamos com eles, reféns destes dois amantes e incansáveis piadistas, sem a menor ideia de onde estamos sendo levados. Como se estivéssemos com uma venda nos olhos, pouco sabendo se vamos atravessar uma rua ou se seremos jogados do alto de um prédio. Estamos em suas mãos, não tem jeito.

E então, como todas as histórias - sejam elas lindas ou tristes / ou lindamente tristes - descobrimos afinal o desfecho da improvável (impossível?) história de amor de Sophie e Julien. Rara, como o amor inocente de um menino e uma menina e sólido feito concreto.

E eterno, como todas as histórias de amor devem ser...

PARA VER E OUVIR: THE VERVE ("BITTER SWEET SYMPHONY")

PARA VER E OUVIR: INTERPOL ("UNTITLED")

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

"I WANT TO BELIEVE"


Este vídeo, com imagens de uma câmera de segurança, documenta a realização de um milagre. No milésimo de segundo em que um caminhão se chocaria com uma motocicleta, eis que um ser surje do nada e literalmente transporta a pessoa para o outro lado da rua, evitando a tragédia e deixando todos incrédulos; o motorista do caminhão busca o corpo no chão e o motociclista se senta na calçada, enquanto um ser misterioso calmamente se distancia da cena.

Obviamente é um vídeo fake (e muito bem feito!) e já existem mil explicações para provar que não se passa de uma armação. Não fosse, seria esta uma prova da existência dos Anjos da Guarda? Ou dos Super-Heróis? Fake ou não, a vontade de acreditar é o que mais importa. Assista e tire as suas conclusões.

PARA VER E OUVIR: FLEETWOOD MAC ("THROWN DOWN")

domingo, 3 de fevereiro de 2013

RAPUNZEL E BLITZKRIEG

Chovia, como acontece nos filmes, quando os dois se conheceram naquela madrugada anônima, onde decidiram seguir juntos, acompanhando as luzes da cidade. Dando uma chance ao destino, alheios ao perigo que nasce dos encontros acidentais.

Sorriam, naquela busca da palavra perfeita, enquanto equilibravam-se juntos sob o guarda-chuva. Um abraço forçado, antes da hora; a mão dele envolvendo a sua cintura, a respiração conjunta, conspirada; a proximidade dos seus corpos estranhos, o hálito misturado sob a água que caía sobre eles.

"Será assim que terei conhecido a mãe dos meus filhos?", ele se pegava pensando bobagem.

As horas voando entrelaçadas em conversas sem fim. As coisas acontecem por alguma razão, ele pensava. Mesmo que seja impossível descobrir qual exatamente. Porque naquela louca tapeçaria de eventos, das certezas revertidas, dos becos cercados por uma selva de concreto e pelas angústias que nascem com novos aniversários, estava Lídia.

* * *

Havia dias bons e dias ruins, como tudo na vida. E dias inúteis ou tantos destes que deveriam ser simplesmente esquecidos, apagados da memória, afundados no umbral das preocupações mundanas que nos tornam adultos chatos e irritados. A parte da vida que nos deixa desesperançosos.

Mas ele sorria, ao caminhar pela rua, quando voltava para casa. Porque ele havia encontrado a sua garota. Sua garota urbana, seu amor na cidade. Ele estaria com ela e pela brevidade daquelas horas em que passavam juntos, até o nascimento de um novo dia, ele era o homem mais feliz do mundo.

Lídia havia surgido em sua vida no pior momento possível. Pior talvez fosse exageiro, claro, mas a verdade é que ele simplesmente não queria conhecer ninguém; estava satisfeito com o império solitário dos seus pensamentos e da passagem amena das horas. Com o conforto que se obtém do silêncio e do silêncio apenas.

Com o controle.

Mas então Lídia apareceu e mesmo que não houvesse uma porta aberta, por assim dizer, ela rapidamente arrumou uma janela, que escalou e escancarou com habilidade, entrando de pára-quedas em sua vida. Invadindo o seu espaço aéreo sem aviso. Para sempre.

Pensava em Rapunzel e blitzkrieg, quantas ironias...

É que ele não tinha espaço para ela em sua vida. Literalmente. E infelizmente. Mas havia algo a respeito de Lídia, algo tão especial. É que ela sumia e aparecia, como mágica. E fazia ele rir, como há muito tempo ele não se julgava capaz.

Ele observava a sua vida virada pelo avesso, e lá estava ela, vestindo as suas camisas de trabalho e esquecendo as suas coisas por todos os cantos. Tropeçando em suas botas com seus pés pequeninos e mudando seus objetos de lugar. Tapando os seus olhos e pedindo para ele contar até 10, cheia de surpresas.

"Você não vai gostar de mim, Lídia", ele ameaçava, "é que não tenho sido eu mesmo há tanto tempo que nem sei ao certo se sei ser alguém".

E ela sorria, com as mãos em seu rosto. E de repente tudo estava bem. Ele havia reencontrado sua musa.

Lídia chorava com filmes românticos e gostava de fazer panquecas pela manhã, deixando o pequeno apartamento como uma zona de guerra. Vestia roupas que combinava ao seu próprio estilo e inventava planos pela manhã que, à noite, já havia abandonado.

Ela era espaçosa e barulhenta, mas a verdade é que Lídia havia mudado tudo para sempre, ele sabia. Porque jamais seria capaz de imaginar a sua vida sem ela.

Lídia, com seus grandes olhos dourados e o cabelo de leoa. De voz rouca e toque gentil. De pele adocicada e boca molhada com o sabor de mil segredos. De sinais e tatuagens, manias e planos repentinos. Lídia, como no poema, com quem ele queria se sentar à beira de um rio.

* * *

Abriu a porta de casa e lá estava ela, como ele esperava. Ela sorriu, abraçando-o ainda na entrada do apartamento, envolvendo o seu corpo no seu. Aquela temperatura morna, que inundava o seu corpo como algo medicinal. Beijos curtos espalhados pelo seu rosto e uma longa narrativa de fatos e coisas.

E no oceano de dúvidas que era aquela existência em que ele há tanto tempo navegava sozinho, sem cartografia, ele soube, como uma revelação, o que era óbvio desde aqueles beijos desajeitados com gosto de surpresa. Daquele reino fundado na chuva.

"É você, Lídia. É você".

sábado, 2 de fevereiro de 2013

ILUSTRANDO

John Held Jr. - "Watercolor of NYC Skyline"

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

"CHEGASTE TARDE"

Tarde demais...
(Florbela Espanca)

Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar;
E para o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar...

Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar
E as pedras do caminho florescer!

Beijando a areia de ouro dos desertos
Procurara-te em vão! Braços abertos,
Pés nus, olhos a rir, a boca em flor!

E há cem anos que eu era nova e linda!
E a minha boca morta grita ainda:
Por que chegaste tarde, ó meu amor?