sábado, 30 de março de 2013

RELEITURA DE MARIO QUINTANA


"O pior fim" - dizia o texto rabiscado na folha manchada por café - "é aquele no qual não se verbaliza uma despedida. Fica apenas o corte, o parto, a ruptura. O vazio". 

...falling into emptiness...

"Eu o perdi", ela dizia para si mesma diante do espelho pequenino, no seu micro apartamento no centro da cidade, enquanto fazia a maquiagem de mais um dia riscado antecipadamente na folhinha. Após aqueles anos todos, aquele pensamento martelado ao acaso.

"Eu o perdi"

E não era a perda simplesmente por não se estar perto, esta que é facilmente remediada por uma carência qualquer ou um pouco mais de álcool no sangue; ela perdera seu par imperfeito como quem perde algo que cai e que quebra. Como quem perde um dente depois da maioridade. Como quem cessa de existir. 

Eles se perderam ao mesmo tempo, ela amenizava, pensando naquela separação sem adeus tão definitiva. A lápide chorosa, coberta de limo. Esquecida.

"Haveria, porém, tantos outros passarinhos coloridos", ela se entretia na janela inventada.

"Menos aquele"
Aquele voou.

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