terça-feira, 8 de outubro de 2013

ILHAS


Essa noite eu sonhei com você. 

Engraçado como isso se tornou algo tão rarefeito. Habitávamos duas ilhas vizinhas, pequeninas e solitárias, separadas por não mais do que algumas braçadas; mas havia algo em mim - algo íntimo - que não me fazia querer nadar. Eu entrava na água até a altura dos joelhos e fingia escutá-la, pondo uma mão atrás do ouvido. Você acenava do outro lado, como se me convidasse a imigrar. Mas eu permanecia no meu lugar, a água gelada lambendo a linha da minha cintura, observando o seu rosto que comunicava uma mistura de confusão e tristeza. 

Você acenava. 
E então acenava novamente. 

Mas a minha resposta final não deixava espaço para dúvida. Caminhei lentamente em direção ao meu lado, à minha praia, onde me deitei sob uma sombra, a areia fina arranhando a pele das minhas costas e o vento secando a água salina sobre o meu corpo. Até conseguia ouvir a sua voz à distância, longe, cada vez mais longe, como um barulho na rua que a gente ignora para voltar a dormir. 

Até não ouvir mais nada. 

Quando acordei entendi afinal o que eram aquelas ilhas. Bem como as braçadas de água que nos separavam.

Eu não gosto mais de você.

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