quarta-feira, 27 de novembro de 2013

MEMÓRIAS SEM MÉRITO

A chuva, às vezes, o fazia pensar nela. Ele ficava ali, olhando pela sua janela o movimento inerte da rua ensopada, a xícara de café aquecendo as suas mãos, o cheiro da grama molhada invadindo o seu nariz, deixando o seu corpo inteiro nostálgico.

Aquela saudade de dias que nunca existiram.
A melhor nostalgia de todas.

Ele não gostava de pensar nela, porém. Era uma alquimia cansativa, aquela de concatenar uma construção desordenada que envolvia desejo e decepção. Aquele somatório exaustivo de pensamentos tão artificiais... "Onde teria se perdido a menina dos seus olhos?", ele se perguntava; um sorriso torto, quase irônico, rasgava o canto do seu rosto. Suspirava.

Ela nunca havia existido. 

Havia algo salino naqueles pensamentos, ele não sabia bem o porquê. Um quê de tristeza, um quê de mágoa, aquelas memórias embaçadas, já sem forma nem mérito. 

She was his satellites. Set of lies.
She was his paradises. Pair of dices.

Ela simplesmente nunca existiu.

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