segunda-feira, 7 de abril de 2014

A NOIVA


Por alguns instantes breves, fugazes, ela conseguia ignorar o caleidoscópio de sons e luzes ao seu redor. Aquela sinfonia caótica de talheres em duelo, conversas paralelas, gritos de felicidade, música alta, dança, brilho de velas decorativas espalhadas pelo grande jardim. O vento batia leve contra os seus cabelos, fazendo os pêlos nos seus braços se arrepiarem; a cauda do seu vestido flutuando, delicada, como as asas de um pássaro. Um pássaro de uma asa só.

Olhos fechados. Um suspiro. 

Era quando ela conseguia fugir dali. Brevemente.

Com a mão sob o queixo, contemplava o grande vale ao redor daquele que, segundo todos ali, era "o dia mais feliz e importante da sua vida". E sorria, agridoce, todas as vezes que alguém a abordava, taça em mãos, hálito ébrio de álcool e êxtase, para lhe dizer algo do tipo:

"Preparada para o começo do resto da sua vida?".

Não, eu não estou.

Ela acenava com a cabeça, respondia de forma educada aos abraços e beijos, desenhando um sorriso discreto, de felicidade inventada, enquanto sentia o seu coração pulsando dentro do seu peito. Como se ela não pertencesse naquele lugar; como se não conseguisse comunicar com nada ali. As flores, a riqueza dos detalhes, as mulheres dançando descalças, o homens abraçados, embriagados, aquele amontoado de pessoas felizes. Aquele entorpecimento que acomete as pessoas em casamentos.

Mas era como se ela simplesmente não estivesse ali. 

Subitamente, foi tomada por pensamentos de dúvida e medo, angustiada além do que o seu estômago era capaz de aguentar. Tirou os sapatos apertados, para sentir a grama molhada sob os seus pés, como se estivesse prestes a correr. Incerta sobre toda e qualquer coisa.

Talvez fosse tarde demais, pensava aflita; faltou-lhe coragem, foi vencida por aquele medo infantil de decepcionar os outros; de seguir um caminho que não é de ninguém, apenas seu. Apenas dela. Sentia como se tivesse sido levada pela força da maré, para um destino além da sua escolha. E chegava a hora de aceitar aquela praia na qual ela havia parado. 

Uma sina, um naufrágio.

"Prove o bolo".

As mãos da sua mãe tinham um toque delicado no seu rosto; carinhos sinceros tomados por orgulho e realização. Sua filha, aquela noiva linda, naquele dia inesquecível. Seu pai então sentou ao seu lado, as mãos entrelaçadas entre as pernas, ostentando um olhar de cumplicidade, como se ele fosse o único ali a suspeitar do turbilhão de pensamentos que envolvia a sua filha. Foi então que ela não conseguiu represar a tonelada de lágrimas escondidas por trás dos seus olhos. Abraçou o seu pai com força, soluçando um pranto profundo. E ele a abraçou de volta, fazendo carinhos em suas costas nuas, emolduradas pelo lindo vestido de pérola e marfim. 

Pelo menos alguém conseguia suspeitar da sua solidão.
Da solidão de uma mulher incerta sobre as suas escolhas. Era isso. Era essa a sua solidão.

Enxugou os olhos levemente borrados, tentando acalmar o seu peito galopante. Então sentiu o toque carinhoso do seu marido em seus ombros, seguido de um abraço apertado e um beijo apaixonado, completamente ignorante e inocentemente feliz. "Agora somos nós dois, até o fim", sussurrou.

Ela o abraçou e volta, depositando a sua cabeça em seu ombro, os olhos fixos no sol que se punha no vale, encharcando a paisagem de tons lilases. 

"Meu Deus, o que eu estou fazendo aqui?".

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