sexta-feira, 6 de novembro de 2015

REPENTINA UMIDADE


Ele entrou no táxi com uma bolsa quase vazia e um coração que galopava no seu peito, embriagado pela ideia quase absurda de visitar um país estrangeiro num domingo qualquer, casualmente. Não, era muito maior, muito mais do que isso. Não era turismo. Era ela. A ideia de vê-la, ainda que ele suspeitasse que, no último segundo, ela ligaria avisando que o plano estava suspenso. Ele havia se preparado para isso; mas respirou fundo, bilhete em mãos, sala de embarque voo confirmado.

Procurou-a imediatamente, claro, mas ela ainda não estava lá. Até que de repente a viu, com a sua saia comprida, sentada a poucos metros, entretida com seus pensamentos; os cabelos negros, levemente ondulados, os olhos pequenos equilibrados sobre a boca que ele nunca havia beijado. 

Sim, era ela, ali, tão perto. E foi como se o lugar tivesse se esvaziado e só restassem eles dois, envolvidos num silêncio que transformava aquele salão de embarque numa catedral fora do tempo. Mas ele permaneceu ali, parado, um sorriso de canto de rosto, observando-a pelo que parecia uma eternidade.

Alguém poderia perguntar a razão de ele ter demorado tanto em ir ao encontro dela. Alguém poderia imaginar que ele estaria ele fazendo charme. Aquela coisa de homem que não quer se mostrar afoito, nem disponível demais.

Ou talvez fosse porque ele simplesmente não conseguia acalmar a repentina umidade que vinha lhe visitar os olhos.

Nenhum comentário: